Nacional

Casamento entre a cultura e fé

Luís Filipe Santos
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Na «noite da misericórdia» do Congresso Internacional para a Nova Evangelização.

“Através de forma artísticas – música, dança e palavra – busca-se uma reflexão sobre a misericórdia” – foi assim que o Pe. Tolentino Mendonça, autor dos textos da «Noite da Misericórdia», definiu à Agência ECCLESIA esta iniciativa integrada no Congresso Internacional para a Nova Evangelização (ICNE) a realizar na cidade de Lisboa até dia 13 deste mês. Faltava uma hora para o início do quadro da misericórdia e conversão – Cristo e a Salvação – e já centenas de pessoas esperavam, no exterior da Igreja de S. Domingos, pelo guião metafórico que ligava o momento da interpretação artística com o sucessivo momento sacramental. Um espectáculo que mostrou “o modo como Jesus, através da sua mensagem, ilumina a necessidade inultrapassável de misericórdia que reside no coração humano”. Os jogos de luz «batiam» nas laterais da Igreja enquanto uma voz lia uma passagem do Evangelho de S. Mateus (Mt. 18, 12). Os congressistas que enchiam completamente a Igreja entravam num ambiente de recolhimento. “Uma parte de mim é permanente, outra perde-se de repente” foi o mote (texto 2) para - na nave central - uma coreografia simbolizar os atropelos contemporâneos. As vozes do coro injectavam os movimentos dos bailarinos que mostravam que “uma parte de mim é ninguém” (texto 2). Apesar do ruído, os que «bebiam» a Nova Evangelização mostravam um ar sereno. Preparavam-se para «O primeiro reconhecimento» porque a “Vida é fome de vida” (texto 3). Alguém procurava a ovelha perdida. A calmia instrumental e as vozes projectadas para a busca da misericórdia indicavam a luz. “Uma iniciativa marcante porque há conciliação entre a arte e a dimensão litúrgica da própria fé” – sublinhou o Pe. Tolentino Mendonça. E acrescenta: “muitas há um divórcio injustificado entre a cultura e a fé”. Jogos de luz, som, ritmo e sombras marcavam a contemplação dos contemplados. Ao centro a bailarina baloiçava o seu corpo ao som do violino e do timbre agudo da voz feminina porque “voas, ó Deus, sobre continentes e mares”. “Teu rosto frente ao meu rosto é a única luz na fundura ressequida da terra” (texto 4). A experiência da misericórdia realizada “no segredo dos corações” – disse o Pe. Tolentino – possa gerar “uma cultura de misericórdia na nossa cidade”. Ao som da música de C. Gesulado – Moro Lasso (Com a minha dor desfaleço) – os jogos sensuais dos bailarinos encaminham-nos para a paixão. O bailarino saiu de cena carregando a mulher às costas tal como Cristo carregou a nossa cruz. Do fundo da Igreja partiu um grupo em direcção ao centro. Entoavam “do abismo profundo, a Ti clamo, Senhor” – música de Cantochão. Faziam o caminho da misericórdia porque “a pobreza, solidão e marginalidade pedem de nós uma resposta cristã” – referiu o autor dos textos. E concluiu: “uma misericórdia com fronteiras não é misericórdia nenhuma”. Terminou com palmas e fez-se a luz da misericórdia.


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