CNJP apela ao voto nas próximas eleições legislativas
A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) apelou hoje a todos os cidadãos, em particular aos cristãos, para que assumam as suas responsabilidades individuais na vida política, ao mesmo tempo que exigiu dos partidos a elevação do debate político.
O apelo foi feito na conferência de imprensa em que a CNJP apresentou o comunicado sobre as próximas eleições legislativas, intitulado "Propor a esperança, abrir as portas a um futuro melhor". A iniciativa foi considerada pelo presidente do organismo, Armando Sales Luís, como correspondente a “uma sensação de necessidade” de intervir nesta área.
Jorge Wemans, secretário da CNJP, disse aos jornalistas que o comunicado surge na seuqência da nota do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), do passado dia 14 de Dezembro, sobre a actual situação política. Em consonância com os Bispos do nosso país, a CNJP apela à participação de todos e critica as atitudes de “desânimo e pessimismo" em relação ao futuro.
“Todos temos o dever de dar testemunho das razões de esperança que existem, visíveis na quantidade de pessoas que em Portugal se dedicam, de uma forma activa e generosa, ao bem comum”, assinalou.
Manuela Silva, vice-presidente do organismo, destacou a oportunidade do comunicado, que classifica como “um olhar atento sobre as circunstâncias concretas do país”.
“Quisemos contribuir para que o próximo acto eleitoral não seja apenas mais um exercício de voto partidário, mas uma ocasião para uma participação mais activa e responsável da nossa sociedade”, frisou.
Apesar de admitir que o país se encontra perante uma situação socio-económica “delicada”, Jorge Wemans considerou que "há um capital humano muito importante que continua a trabalhar e a tentar melhorar o país".
"Nos últimos anos, por diversas circunstâncias, fomos arrastados para uma situação depressiva", disse Manuela Silva, vice-presidente da CNJP; destacando a necessidade de "sublinhar e dar a conhecer o que há de positivo, o capital humano e ético que ainda existe na nossa sociedade".
Votar e reflectir
Jorge Wemans sublinhou que a CNJP faz um apelo à participação de todos, considerando que “não há nenhuma razão para que as pessoas não se envolvam no processo eleitoral”.
"Temos notado entre alguns cristãos uma posição de distanciamento em relação ao acto eleitoral – esperando que outros resolvam os problemas - ou de cinismo em relação à situação política actual - manifestada em comentários como ‘os partidos são todos a mesma coisa’ ou ‘nada vai mudar’ –, demitindo-se com esses argumentos da reflexão que este momento exige”, lamentou.
Para a Comissão, "estas posições são formas de fugir à responsabilidade individual e de recusarmos tomar consciência da sua relação com as realidades que queremos ver inscritas na condução dos assuntos públicos".
Em resposta a uma pergunta da Agência ECCLESIA, Jorge Wemans salientou ainda que as comunidades católicas têm um papel a desempenhar na discussão de propostas políticas, “aproveitando as redes que se estabelecem no seu interior para debaterem estas questões”.
Alfredo Bruto da Costa, outro dos vice-presidentes da CNJP, insistiu na responsabilidades dos católicos na vida política, a partir de “um entendimento do ser cristão que implica a intervenção activa na construção do mundo”.
“Rejeitamos liminarmente todo o entendimento da vida política que leve as pessoas a pensar que ela é para ser feita pelos políticos. A política deve ser construída por toda a sociedade”, ressaltou.
A Comissão pede uma mobilização para o voto, vincando que "as pessoas são livres de exprimir a sua opinião e mesmo de votar em branco", conforme referiu Jorge Wemans.
"Convocamos todos, portuguesas e portuguesas, a encontrar uma forma de participar no próximo acto eleitoral, afirmando um direito e um dever cívico, no respeito que as pessoas devem ter por si próprias", acrescentou.
Debate partidário com qualidade
Manuela Silva salientou a necessidade “de uma exigência maior relativamente ao debate político”, referindo que a Comissão vê "com grande preocupação" que o debate se esteja a centrar em questões de menos importância, em vez dos problemas de fundo: “as nossas formas de nos organizarmos politicamente e participar, a construção de uma economia sustentada em bases sólidas e a produção de rendimento que se traduza em bem-estar para todos”.
Jorge Wemans espera que este seja um tempo para que os partidos apresentem “um debate político clarificador em termos de propostas, seja para responder aos problemas que o país enfrenta, seja para aprofundar as potencialidades que ele possui”.
A CNJP foi criada há 20 anos pela CEP e é um organismo laical, com a finalidade genérica de promover e defender os ideais da Justiça e da Paz à luz do Evangelho e da Doutrina Social da Igreja. A Comissão actua sob a sua própria responsabilidade, não vinculando necessariamente a hierarquia.
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