Nacional

Ciência deve colocar-se ao serviço da dignidade humana

Jornal da Madeira
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Actas da I Jornada de Bioética do Funchal

A apresentação das Actas das primeiras Jornadas de Bioética realizadas no Funchal, em Março passado, foi uma oportunidade para alguns esclarecimentos sobre questões controversas do progresso científico na actualidade, como a eutanásia e as experiências com as células estaminais, no parecer competente do especialista. “A Bioética é o confronto entre o progresso tecnológico e a dignidade humana” referiu ao Jornal da Madeira o professor Jorge Biscaia, especialista em Pediatria e fundador do Centro de Estudos de Coimbra sobre bioética, em 1985 - um dos mais antigos da Europa, a par dos Centros de Barcelona, Lovaina e Paris. A instituição reúne juristas, médicos, teólogos e psicólogos, num “verdadeiro encontro de saberes para o conhecimento total do homem”, sublinhou. Para Jorge Biscaia, não se pode defender a dignidade humana e ao mesmo tempo condenar à morte quem já não seja “útil” à sociedade: “O respeito das pessoas tem que estar acima de tudo”, defende o especialista preocupado com as questões éticas da vida; “os critérios por que se rege a decisão para a eutanásia são de ordem economicista e, nessa óptica, é melhor eliminar do que cuidar”. As preocupações com a Bioética “começaram com as experiências nazis sem consentimento das pessoas e progrediram com a intervenção de Pio XII, por exemplo, sobre a distanásia e em defesa dos cuidados paliativos, isto é, defesa da relação pessoal, o amparo e o carinho devidos, dando-se assim sentido à vida até ao fim.” Na actualidade, continuam a surgir novas inquietações, como é o caso das “células estaminais, em que se admite que possam resolver problemas de saúde relacionados com o Parkison ou Alzheimer; o progresso científico é inevitável, mas há que preservar a dignidade da pessoa”, considera ainda Jorge Biscaia. Em Portugal, o debate sobre estas questões continua no bom caminho e acompanha o que se faz lá fora. “Depois do Centro de Estudos Coimbra apareceu o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, entre outras associações, e há muita bibliografia a esse respeito”, conclui o especialista nesta matéria. A cerimónia pública de apresentação das Actas decorreu na Livraria Paulinas e reuniu os responsáveis pela realização das Jornadas sobre Bioética.


Eutanásia/Bioética