Nacional

Ciganos pouco integrados em Portugal

Nuno Rosário Fernandes
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Estudo comparativo revela que na Espanha a integração é mais fácil

Em Portugal os ciganos encontram maior dificuldade de integração do que na vizinha Espanha, revela um estudo apresentado recentemente pela Fundação Filos, no Porto. Do resultado de um trabalho de acompanhamento continuado a Fundação Filos, promotora de projectos de intervenção social, apresentou “três estudos de casoâ€, desenvolvidos em parceria com o Centro Social da Paróquia da Areosa e o Centro Claretiano de Apoio à Juventude e Família, e de um desses estudos realizados concluiu que os ciganos “sentem que em Espanha há maior condições de integração do que em Portugalâ€, disse à Agencia ECCLESIA o Pe. José Maia, presidente da fundação que apresentou este relatório. “Uma das razões - explicou aquele sacerdote claretiano - poderá ser a abertura do povo espanhol, e a outra pode estar relacionada com o facto de a gente cigana ter como modo de vida a venda ambulante. Em Portugal o negócio tem maiores dificuldades e admito que em Espanha, que é um mercado maior, eles encontrem maior facilidade por essa viaâ€, justificou. Para a realização deste estudo foi analisada uma família cigana, em Portugal e outra em Espanha “para confrontar os problemas com que se defrontam em países diferentesâ€, explicou o Pe. Maia. Nas comunidades ciganas são notórias ainda outras problemáticas que se prendem com os baixos níveis de escolaridade, revela este estudo. As profissões são pouco qualificadas, tem um carácter absolutamente precário e o desemprego estrutural, o que “os atira para comportamentos desviantes, nomeadamente o furto e o tráficoâ€, salienta o estudo. “A ida à escola, em Portugal, ainda se faz com alguma relutânciaâ€, afirmou o Pe. José Maia, acentuando a dificuldade de integração das crianças ciganas nas escolas. “A escola está muito dispersa das problemáticas destas etnias e das suas tradiçõesâ€, destacou, tendo por base o caso de estudo realizado. “Depois - continuou - muitas vezes estas crianças em Portugal vão à escola apenas por causa do rendimento social, porque é uma das condições impostasâ€. “Na Espanha parece que haverá uma escola mais preparada para os atenderâ€, salientou o presidente da Fundação Filos. “Em Portugal há dificuldade em ir ao encontro da cultura deste povoâ€, acentuou. A dificuldade de integração de ciganos nas comunidades locais pode também estar pelo carácter nómada que caracteriza os ciganos porque, considera o Pe. José Maia, “a passagem da nomadização à sedentarização é uma passagem que em alguns casos ainda não está feita, e que em alguns casos demora a fazer-seâ€. Outras problemas sociais A Fundação Filos tem procurado estar atenta a vários problemas sociais e por isso neste estudo que apresentou concluiu também que “o desemprego e o insucesso escolar estão na origem de uma propensão para o envolvimento na drogaâ€, disse o Pe Maia. A partir de uma análise ao Balcão Social da insituição percebe-se que “temos de nos adaptar muito mais àquilo que as pessoas nos pedem para dar respostas mais adequadasâ€, e “há da parte das pessoas uma abertura para se valorizarem maisâ€, sobretudo de “gente que vai à procura de segundas oportunidadesâ€, comentou. Numa análise a 100 casos de toxicodependência, em realidade diferentes, concluiu-se ainda que “a desestruturação familiar tem importância nos desvios comportamentais como é o caso da queda na drogaâ€, acrescentou aquele responsável, e que hoje, “as raparigas começam a ser apanhadas nesta rede, numa percentagem que antes não existiaâ€. Por isso, conclui, “tem de se começar a prevenção muito mais cedoâ€.


Pastoral dos Ciganos