Cinema: Deste Lado da Ressurreição
Percorreu festivais onde se fez notado: Toronto e São Paulo. Foi considerado um dos vinte e dois melhores filmes da cinematografia mundial pela Filmcomment (publicação da Film Society do Lincoln Center).
Aliadas à propaganda agora visível na internet e às menções na imprensa internacional e blogosfera da especialidade, tais referências promovem, naturalmente, a expetativa criada sobre este lado da ressurreição do realizador, argumentista, produtor e distribuidor Joaquim Sapinho (“Diários da Bósnia”, “Mulher Polícia”, “Corte de Cabelo”).
“Deste Lado da Ressurreição” promete, na sua divulgação, uma obra poética capaz de explorar a demanda dum jovem surfista da extraordinária praia do Guincho numa incessante busca da fé que o leva até ao Convento dos Capuchos, na também extraordinária serra de Sintra. Terá por premissa, declarada na página do distribuidor, a discussão sobre o sentido existencial do cristianismo pelo teólogo protestante Karl Barth, em que potencialmente veríamos abordada, explorada ou discutida fé e religião e a sua íntima ligação: a uma cultura ou a Deus?
Sugestão poética existe na conceção visual do filme e, para quem conheça a interpelação do teólogo, pode inclusivamente acreditar-se que Sapinho quisesse expor a sua leitura de “Senhor, livra-me da religião e dá-me a fé” ao mergulhar-nos no evidente drama de Rafael: profundo conhecedor e amante das águas implacáveis do Guincho, da beleza e da implacabilidade da Natureza em geral que, não encontrando nelas o Deus procurado, a resposta aos seus anseios e, sobretudo, ao desejo de remissão de uma dor e de um pecado que não chegamos a conhecer, procura caminho e consolo num remoto convento em plena serra, onde a autoflagelação, por seu lado, e a procura de vocações pelo lado dos irmãos capuchinhos, aliada à persistência da irmã de sangue em trazê-lo, se afiguram como últimos redutos da sua remissão.
Há no entanto, na sugestão poética, teológica e dramática, uma permanente ausência de músculo que infelizmente não chegam para alavancar mais do que breves impressões sobre uma boa série de premissas que muito teriam a dar a um bom cineasta.
Talvez este seja apenas o início de um caminho de fé para o realizador...
Margarida Ataíde
Cinema