Referiu a vice-presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz
A vice-presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz afirmou, ontem, que a verdadeira política pública tem que ser encarada numa perspectiva transversal. Na conferência que proferiu na Faculdade de Ciências Socais da Universidade Católica de Braga, sobre as “Políticas de combate à pobreza: urgência, inovação e rigor, Manuela Silva, referiu que se trata de «um enviesamento discutir-se a questão orçamental como uma questão autónoma, se quisermos colocar a pobreza no âmbito da cidadania e dos direitos humanos. Às políticas públicas têm de estar sempre aliadas as questões do “com quê, para quê, para quem” são dirigidas.
A responsável sustentou que «existe um deficit de reconhecimento da exclusão social como elemento desagregador. Convivemos de forma branda com a situação e tendemos a colocá-la no foro individual ou, então, como se ela tivesse causas arbitrárias e surgisse de forma aleatória. Algumas pessoas até chegam a descontextualizar a expressão bíblica “Pobres haveis de os ter sempre” . A pobreza é um escândalo, principalmente em países onde abundam os recursos».
«Oculta-se a questão, que está relacionada com políticas concretas e esquecemos que não se trata apenas de um problema para os pobres, mas também para os não-pobres. Estes também vêem a sua segurança ameaçada, para além de se tratar de um desincentivo para o processo económico, de cidadania e participação política. Prejudica incluídos e excluídos», referiu a economista, numa alusão às políticas públicas encetadas pelos partidos do poder nas últimas décadas.
A vice-presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz acrescentou que, apesar da importância das políticas públicas, o combate à pobreza e exclusão social também é da responsabilidade da sociedade civil. «É necessário dinamizar e tornar mais eficientes as instituições de solidariedade e o voluntariado», realçou.
Escasseiam análises regionalizadas
Apesar de vários estudos, trata-se de um fenómeno ainda desconhecido da maioria dos portugueses, para além de serem escassas as análises regionalizadas. A responsável admitiu que nas políticas sociais também devem ser estudados os custos e os níveis
de eficiências, ou seja, deve existir uma monitorização permanente.
Em Portugal existem cerca de 200 mil pessoas que dependem da ajuda alimentar. «Se não existissem políticas sociais, a taxa de pobreza situava-se nos 27 por cento. Cerca de dois milhões de portugueses — principalmente portuguesas! — estão situados na categoria de “empobrecidos”. Metade encontra-se na categoria de “pobres persistentes”,
ou seja, dois dos últimos três anos foram passados com graves carências», destacou Manuela Silva, que terminou com a sugestão de um título jornalístico para a problemática: “A exclusão social é o avesso dos valores e princípios democráticos”.