Congresso Ibero-Americano debate formas de acolhimento em lugares sagrados
Trabalhos do II Congresso Ibero-Americano de Destinos Religiosos e do V Congresso Internacional de Cidades-Santuário
Na sua reflexão, o Padre José Jaime Brosel Gavilá, membro do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, respondeu à interrogação "Comoacolher os diferentes públicos em lugares sagrados?" com outras interrogações "Acolher para quê? Com que finalidade?". "A resposta é uma: acolher para evangelizar" porque, sublinhou, "a evangelização é o que define a missão total da Igreja", como missão mais profunda.
À pergunta "Quem acolhemos?" este responsável responde que, nos locais sagrados, o destinatário do Evangelho é o homem concreto, "não é o colectivo" é "o homem concreto, as suas interrogações, os seus anseios de felicidade, os seus fracassos e os seus êxitos".
"Convivemos com diferentes sensibilidades culturais, sociais e religiosas, com realidades cada vez mais distintas. Esta diversificação traduz-se em uma importante pluralidade de destinatários da nossa acção evangelizadora, que nos exige adaptar e diversificar as nossas propostas, rompendo com a ideia do modelo único que se ajusta a todas as realidades".
Em relação ao anúncio da fé, o P. Brosel Gavilá propõe uma acção missionária, caracterizada "por um primeiro anuncio da fé, centrado no fundamental, que responda às inquietudes humanas daqueles que nos escutam", e daí a importância "de uma possibilidade pessoal para a escuta, passando pelo acompanhamento durante o tempo da presença (no local sagrado)".
Efectuado por sacerdotes, religiosos ou laicos, o acolhimento supõe "uma atitude acolhedora e compreensiva, que aproveite cada ocasião como um verdadeiro kairós para anunciar o Evangelho e uma possibilidade para facilitar o encontro", como "um primeiro anúncio com perspectivas de futuro".
Fátima é hoje uma realidade que toca milhões de pessoas
Outro dos conferencistas deste painel, o Reitor do Santuário de Fátima, ao confirmar esta "convergência de multidões muito heterogéneas" considera que "mesmo os públicos portadores de motivação religiosas oferecem muitas nuances: há os que chegam repletos de desejo de entrar no lugar, marcados pelo mais puro desejo de identificação com a índole do lugar; há os que chegam com perspectivas religiosas completamente distintas, em consequência da ignorância religiosa ou de uma falsa compreensão do lugar e do fenómeno a ele associado; há ainda os que chegam à procura de um contacto vago com o transcendente ou com uma dimensão espiritual da vida".
O Padre Virgílio Antunes recordou os diferentes ritmos que marcam este santuário mariano português: "Nos dias das grandes peregrinações chegam muitas pessoas organizadas em grupos que podem ascender a mais de uma centena. (...) Nos grandes dias de peregrinação aniversária, chegam largas dezenas de milhar de peregrinos, que podem ascender a cem, duzentos ou trezentos mil (...) Grande parte dos peregrinos que chegam a Fátima não vem inserida em nenhum grupo organizado, mas peregrina individualmente ou em família. (...) Fátima é hoje uma realidade que toca milhões de pessoas individualmente, mas também na sua atitude face à vida, face aos outros, face à Igreja e face a Deus. É um sinal que aponta a realidade do transcendente, mesmo para aqueles que não puderam sentir a realidade da fé consciente, esclarecida e assumida nas suas vidas".
Sobre a forma de como melhor acolher toda esta diversidade de "pessoas tão diferentes na sua vida, cultura, convicções e perspectivas religiosas", o Reitor do Santuário de Fátima também considera que "o santuário é sempre um lugar de palavra. Pelo menos no contexto cristão, não pode ser de outra forma, pois Cristo, o Filho de Deus, fez-se carne, verbo, palavra".
Além disso, refere, "o melhor serviço que um lugar sagrado pode prestar aos seus visitantes consiste em apresentar de forma pura a sua mensagem e em permitir um contacto o mais genuíno possível com a sua identidade."
Considera o Reitor que "é indispensável a conjugação de esforços de todas as entidades directa ou indirectamente envolvidas no processo: religiosas, civis e públicas. Cada uma no seu nível e dentro do âmbito que lhes diz respeito".
Sobre Fátima, refere que "Fátima, tal como outros lugares sagrados, tem algo de especifico e de característico, que outros lugares não têm, e proporciona uma experiência humana, que outros lugares não podem oferecer. Cada lugar sagrado é uma realidade única e proporciona uma realidade única".
"Estar no meio de uma multidão que sintoniza no mesmo tom e nos mesmos sentimentos, cativa, atrai, interroga, provoca".
Fátima