Nacional

Continuar a rezar e a trabalhar pela paz

CNJP
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Com profunda tristeza, verificamos que teve início a guerra contra o Iraque. Não foram ouvidos os incessantes e dramáticos apelos do Papa João Paulo II para que ela fosse evitada. Quem decidiu esta guerra não foi sensível a uma mobilização sem precedentes da opinião pública mundial em favor da paz. De acordo com todas as sondagens, esta guerra não encontra adesão entre a maioria dos cidadãos e cidadãs de Portugal, da Europa e de todo o Mundo, sendo que nesta maioria se incluem pessoas de todas as convicções políticas ou religiosas. A Comissão Nacional Justiça e Paz uniu-se de modo particular ao Papa e aos cristãos de todo o mundo que denunciaram a ilegitimidade desta guerra e os perigos que ela pode acarretar. Não nos move qualquer espécie de hostilidade anti americana, nem muito menos qualquer tipo de simpatia pelo actual regime político iraquiano, mas antes a solicitude para com as vítimas inocentes desta guerra. Estas vítimas são frequentemente esquecidas nas análises geoestratégicas. Também o foram neste caso. A todos os que sinceramente se esforçaram para que a guerra fosse evitada, queremos dizer que não há motivos para o desalento e que todo o seu empenho não deixará de produzir frutos. Não foram certamente em vão as orações. Não foram em vão os esforços diplomáticos. Não foram em vão a mobilização da opinião pública e o esclarecimento das consciências. É que, para enfrentar os desafios que nos coloca o Milénio que agora se inicia, torna-se necessário, mais do que nunca, difundir uma mentalidade inspirada por uma cultura de paz. Também só com essa mentalidade é possível enfrentar questões como as do diálogo entre o Ocidente e o mundo islâmico, o combate ao terrorismo, a democracia no Médio Oriente ou a justiça nas relações israelo-palestinianas. Continuamos convencidos de que a guerra vem trazer dificuldades acrescidas à solução de qualquer destes problemas. Depois de “vencida†a guerra, surgirá o desafio mais importante: o de “vencer†a paz. E tal só é possível através de soluções ditadas por esta cultura de paz, para a qual a opinião pública mundial está hoje mais desperta. Afirmou João Paulo II na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano: “Sem dúvida que as estruturas e os mecanismos de paz – jurídicos, políticos e económicos – são necessários e muitas vezes felizmente existem; mas constituem apenas o fruto da sabedoria e da experiência acumuladas ao longo da história, pelos inumeráveis gestos de paz, realizados por homens e mulheres que souberam esperar, sem nunca ceder ao desânimo. Gestos de paz nascem da vida de pessoas que cultivam constantemente no próprio espírito atitudes de paz; são fruto da mente e do coração de “obreiros da paz†(Cf. Mt 5,9).†Com esta convicção, e pensando nas vítimas da guerra e nas questões que ela deixará por resolver, queremos afirmar que vale a pena continuar a rezar e a trabalhar pela paz. Pela Comissão Nacional Justiça e Paz Armando Sales Luís Presidente Lisboa, 20 de Março de 2003


Guerra do Iraque