Nacional

Convergências

Voz Portucalense
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O 1º de Maio foi, mais uma vez, celebrado nternacionalmente (começou a sê-lo nos Estados Unidos) e também em Portugal. Durante muitos anos, foi entre nós uma data herética, e era diluída no ritmo do quotidiano vulgar. Depois de 25 de Abril de 1974, o 1º de Maio foi declarado Dia do Trabalhador e, a partir daí, passou a ser feriado nacional. A alergia do regime anterior a tudo que transpirasse reclamação e justiça social (o padre Abel Varzim foi um herói e um mártir por, a propósito, ter empunhado o Evangelho) atirava para o exílio algumas realidades e valores que tinham a ver com a realização pessoal e a dignidade do indivíduo. A turbulência social que se seguiu à primeira República gerou os anticorpos que marcaram negativamente os quarenta e oito anos que antecederam o 25 de Abril. Hoje, os jovens não compreendem como a liberdade de expressão, a pluralidade política e a oposição a qualquer governo tenham estado banidas durante décadas, e tenham sofrido penas de prisão aqueles que as defendiam e proclamavam. Na escala destes e outros princípios há muitas convergências. Há dias, surpreendi-me com uma afirmação do cantor José Mário Branco, assumidamente um homem de esquerda, afirmação que eu subscrevo. Dizia ele, em entrevista à TV, que “ser de esquerda é não conseguir viver bem com a dor dos outros”. Há alguma demagogia nisto? Mas como, se ser verdadeiramente cristão é, na mesma, não viver bem com a dor dos outros? Andamos, tantas vezes, separados por muros de Berlim, mas levando nas mãos o mesmo lume. E, aqui chegado, não posso deixar de citar, mais uma vez, D. António Ferreira Gomes que disse a um jornalista que o mundo é mais cristão do que muitos querem admitir. Afinal, a estrada da evangelização, a nova evangelização, está aos nossos pés. A questão é que não nos metamos por atalhos. Pacheco de Andrade


25 de Abril