Nacional

Conversão pessoal para ultrapassar a violência

Paulo Gomes
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Frei Bento Domingues na Semana de Estudos Teológicos em Viana

Para se ultrapassar a actual situação emergente de violência é necessário converter a violência que existe no interior de cada um, disse Frei Bento Domingues na abertura da XV Semana de Estudos Teológicos, que está a decorrer em Viana do Castelo. O perdão, sublinhou, «é o grande instrumento da paz» que se quer para os dias de hoje, e não para um futuro longínquo como muitos advogam numa visão puramente marxista. Para encontrar caminhos de paz, a única via é ir experimentando paulatinamente o terreno mais propício, disse o frade dominicano, que abriu a intervenção a falar de uma campanha intitulada “Dêem uma oportunidade à paz”. Crítico para com os media, acusando-os de serem os grandes divulgadores da violência, quer pelos «modelos » que propõem à sociedade, em particular no que respeita à família, quer pela forma «distorcida» como apresentam as realidades, mostrando apenas aquilo que elas têm de pior na lógica de que «notícia é quando o homem mordeu o cão». Apregoando a necessidade de operar uma grande reforma nas grandes instituições internacionais, Frei Bento Domingues teceu duras críticas às teorias neo-conservadoras, ampliadas pelos meios de comunicação, onde se defende que aquilo que é bom para uns quantos é bom para todos, e a consequência está à vista neste mundo que cada vez se torna mais inseguro. Esta realidade surge da complexidade do ser humano, no qual coexiste «um pacífico e um violento», e no ser «gregário», que o leva a ter que se encontrar com o outro que na sua «diferença » o interpela. Aliada à complexidade do homem está a complexidade da realidade que se constrói, na qual «nenhuma luta contra o mal é garantia de um futuro mundo fraterno», porque o homem é um ser em construção e algumas pessoas «cedem à mutilação sobre os outros». Não podemos esquecer, advertiu, que hoje a sociedade contém «formas estruturais de violência», em particular, as de nível económico com a progressiva concentração de muito nas mãos de um «punhado de pessoas», mesmo no nosso país, condicionando todas as outras estruturas sociais basilares de garantia de direitos dos cidadãos. Basta olhar para o ensino e escola que temos: estes são espaços em guerra, no contexto de uma sociedade violenta. A escola, dita genericamente, está «uma desgraça» e é palco de um «universo de queixas» de pais contra os professores e vice-versa. Contudo, existem alguns oásis que são os «óptimos colégios», que dominam o ranking, mas perpetuam «o melhor para aqueles que já têm tudo». A família, referiu, «é o melhor local para a violência » e recordou que, de facto, esta pode ser uma «instituição de violência». O frade recordou alguém que apresentava três modelos de família: “varão” (manda ele e ela não); “varunca” (manda ela e ele nunca); e “varela” (manda ele e ela). Este quadro pitoresco, mas nem sempre ultrapassado, serviu para introduzir o modelo do «amor recíproco», que é o único capaz de realizar a «superação da violência». Esta Semana de Estudos prossegue esta noite, no auditório do Instituto Católico de Viana, com “Uma leitura da violência na Sagrada Escritura”, por Luísa Almendra, da Congregação do Coração Imaculado de Maria. A Semana termina amanhã. Paulo Gomes/Diário do Minho


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