Aniversário da morte da Beata Alexandrina atraiu milhares a Balasar
Os cristãos foram ontem desafiados pelo Arcebispo de Braga a reagirem ao pecado através da força que a fidelidade ao amor de Deus impõe. D. Jorge Ortiga, que presidia à celebração eucarística que assinalava os 50 anos da morte da Beata Alexandrina, em Balasar, exortou as centenas de pessoas que encheram por completo a igreja paroquial a
«gravarem no coração o amor de Deus» e a serem fiéis a esse amor «mesmo arriscando a própria vida».
Na homilia, o prelado bracarense salientou que, se no coração dos cristãos estiver gravado o amor da Santíssima Trindade, «nada nem ninguém o apagará». «Podem vir tormentas e tempestades que nada no mundo o paga ou corrompe, porque não há concorrência possível para esse amor», acrescentou.
D. Jorge Ortiga lembrou que hoje a fidelidade da relação dos cristãos com Deus é ameaçada e posta em causa por um mundo social que renega a realidade do pecado. «Temos de ser cristãos seduzidos pelo amor a Cristo, não o trocando por prazeres, costumes e outras distracções do mundo. A Beata Alexandrina foi também posta à prova e soube subsistir», afirmou o prelado.
No entanto, o Arcebispo salientou que se cada um dos cristãos sabe que a sua vocação é o amor, então «também sabem que são muitas vezes infiéis a esse mesmo amor. Isso é que é o pecado». Perante uma assembleia onde se encontrava também um grupo de devotos da Beata Alexandrina proveniente da Itália, D. Jorge Ortiga referiu que as pessoas estão a «perder a consciência do pecado», vivendo mergulhadas num mundo onde «tudo é permitido desde que satisfaça ou corresponda aos desejos».
O prelado vai mais longe ao considerar que a sociedade actual «perdeu referências e vagueia ao sabor dos apetites», pelo que a fidelidade ao amor é esquecida.
E «porque o pecado existe e tem de ser chamado por este nome», que o Arcebispo de Braga exortou os cristãos a que não o reconheçam apenas mas que tomem consciência que também eles são muitas vezes infiéis e por isso pecadores em pensamentos, palavras e obras.
Perante este cenário vivencial, D. Jorge Ortiga anunciou uma receita: «é preciso lutar, reagir, resistir e fugir ao pecado». O prelado considera ser necessário que os cristãos «lutem contra uma mentalidade de promiscuidade», que «reajam sem medo de assumirem comportamentos diferentes», que «resistam como testemunho de autenticidade» e que «fujam de ambientes propícios ao pecado». Ainda sobre este “receituário” contra o pecado, o Arcebispo de Braga disse urgir que os crentes «lutem com todas as forças à realidade do pecado, arriscando a própria vida ao assumir as consequências desse mesmo combate».
Apontando o exemplo de vida de Alexandrina Maria da Costa, D. Jorge Ortiga asseverou ser «preciso coragem para os cristãos traçarem a sua vida contra a corrente e a pressão social». O presidente da celebração garante que a felicidade da satisfação dos prazeres e apetites mundanos «é efémera e vazia», pois «não preenche nem realiza o homem». Por isso, segundo o prelado, se explica «a busca incessante do homem de hoje por algo que o preencha» sendo que, na maior parte das vezes, é conduzido a becos sem saída e provocam ainda mais insatisfação e infelicidade.
É então que surge o convite de Deus ao homem para que siga a via do seu amor. Ao responder afirmativamente a esse convite «o homem vê-se livre das amarras do mundo, pauta a sua vida por valores e é feliz», garante o arcebispo.
D. Jorge Ortiga alerta, no entanto, que «esta linguagem só será entendida pelos simples, pois os inteligentes, os “espertos”, as máquinas do lucro fácil e a publicidade bem organizada não a podem compreender».
Na fase final da homilia, a mensagem e exemplo de vida da Beata Alexandrina foi sublinhada pelo prelado como um legado de «amor fiel a Deus». «Ela não aceitou a via do pecado e, por isso, mesmo é hoje proclamada em muitos lugares do mundo», acrescentou. D. Jorge Ortiga apontou ainda que «Balasar é hoje uma terra conhecida pelo mundo, porque uma jovem soube ser fiel ao Baptismo». O Arcebispo de Braga exortou ainda os presentes a que façam da sua própria vida uma homenagem à Beata Alexandrina.
Aludindo ao facto do altar da igreja estar decorado com rosas brancas – uma flor que, segundo as crónicas, esgotou na região no dia do funeral de Alexandrina Maria da Costa – o prelado referiu que via nelas as «551 paróquias da arquidiocese» que, como sinal de fidelidade, estavam presentes em torno daquele altar, em torno do sacrário para o qual estão voltados os restos mortais da beata, como foi sua última vontade.
Paróquia nega ter projecto de um eventual santuário
Em virtude de uma notícia vinda ontem a público num jornal nacional, muitas eram as pessoas que falavam da suposta existência de um projecto de um santuário a ser construído em Balasar. Questionado pelo Diário do Minho sobre o assunto, o pároco negou tal facto.
O padre José Granja adiantou da necessidade da paróquia dar condições aos milhares de peregrinos que procuram aquela localidade mas que «nada está ainda projectado». «Não se pode apontar já uma localização para acolher a eventual construção de um novo templo, visto que o Plano Director Municipal (PDM) ainda não foi revisto, vai ser alterado e desconhecemos os eventuais locais que esse plano deixa disponíveis para albergar uma estrutura desse tipo», explicou o sacerdote.
Assim sendo, o padre José Granja refere não ser possível avançar com um projecto e com eventuais custos «de uma obra que ainda não se sabe o que vai ser, onde vai nascer e como vai ser». Por isso, remata o sacerdote, «tudo o que possa ser já avançado é pura especulação».