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Cristãos devem mobilizar-se para enfrentar a «crise»

D. António de Sousa Braga
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D. António de Sousa Braga

Ano Novo, vida nova! Não pode ser piedoso desejo, nem votos de circunstância. Tem de ser compromisso. Haverá vida nova no novo ano, se houver mudança de vida, que o Evangelho chama conversão. Foi assim que Jesus começou a Sua pregação. “Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; convertei-vos e acreditai no Evangelho” (Mc 1,14). E o Evangelho, a Boa Notícia, é essa possibilidade de vida nova que Jesus nos dá. Ele veio, não para condenar o mundo, mas para o libertar do mal e da raiz de todos os males, que é o pecado. Apesar da complexidade dos problemas, a nível mundial, europeu e nacional, não estamos num beco sem saída. Porque acreditamos na regeneração do ser humano, redimido por Cristo, olhamos para a vida e para a história com esperança, que não é ingenuidade de quem não vê os problemas, mas realismo de quem acredita que é possível mudar. E por isso mesmo se compromete. A situação de “crise” que atravessa o país, longe de nos levar ao desalento e à resignação, deve mobilizar-nos, como cidadãos e como cristãos, para sermos parte da solução dos problemas. Toda a “crise é oportunidade inadiável de mudança. Implica a tomada de consciência do desajuste das respostas aos problemas. Alguns vêm de trás e outros, de fora. Seja como for, desafiam-nos à responsabilidade e ao engenho. Como exortam os nossos Bispos, “não tenhamos medo dos momentos difíceis, pois eles constituem, tantas vezes, alicerce de um futuro melhor. Ele só pode ser fruto da competência e da generosidade”, de que os cristãos devem ser os primeiros a darem exemplo, através de uma “cidadania mais esclarecida, criteriosa, responsável e solidária”. Nem tudo depende do Estado. Uma sociedade democrática “só progride com a iniciativa e a responsabilidade de todos”. Ou nos salvamos todos, ou não se salva ninguém. “Estamos num momento em que é preciso realçar as exigências do bem comum, isto é, a prevalência do bem de toda a colectividade sobre interesses pessoais ou corporativos. A busca do bem comum supõe lucidez de discernimento e generosidade de comportamentos” (CEP, Um Olhar de Responsabilidade e de Esperança sobre a Crise Financeira do País, Nota Pastoral de 23 de Junho de 2005). Quem mais do que os cristãos deve estar preparado para essa exigência de austeridade e de sobriedade de vida, em vista do bem comum, que é, por definição, o bem de todos? Mais grave do que retirar os símbolos religiosos dos lugares públicos é não inserir na sociedade, como fermento que leveda a massa, sinais visíveis e credíveis de vida nova, enformada pelo Evangelho de Jesus, que não veio pôr remendos em panos velhos, mas restaurar todas as coisas, de cima a baixo: “vinho novo em odres novos”! Ele é que torna possível mudanças estruturais, radicadas na conversão do coração humano. Isso é realmente uma prenda que só o Deus-Menino pode dar. É um sinal dos tempos que o Papa Bento XVI, no seu estilo discreto e reservado, comece a surpreender positivamente e a interpretar alguma elite intelectual, com as suas profundas catequeses sobre os valores perenes da civilização humana, assentes na Boa Nova, de que a Igreja é mensageira. Ano Novo, vida nova! Isso é possível! É o nosso compromisso para 2006. Por coerência de vida cristã. + António, Bispo de Angra


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