Lembrou o Bispo do Algarve no encerramento do "Ano Vicentino"
Perante uma assembleia numerosa que encheu por completo a tenda de grandes dimensões, D. Manuel Quintas, Bispo do Algarve, começou por sublinhar na sua homilia da Eucaristia de Encerramento do “Ano Vicentino”, o «anúncio realista que Jesus faz aos seus discípulos sobre as dificuldades que encontrarão no anúncio do Evangelho», relatado por São Mateus: “Sereis levados, por minha causa, à presença de governadores e de reis para que deis testemunho diante deles. Aquele que permanecer firme até ao fim há-de salvar-se”.
Dificuldades confirmadas já na Igreja nascente de Jerusalém quando o evangelista escreveu o “seu” Evangelho. A prisão dos Apóstolos, o martírio do diácono Estevão, a perseguição generalizada aos cristãos, foram alguns dos exemplos enumerados pelo Bispo diocesano.
«São Vicente confirmou com a sua vida, e mais ainda com o seu martírio, a convicção profunda de São Paulo a respeito daqueles que, no seu tempo, e em todos os tempos, não se atemorizaram, nem cederam, perante os sofrimentos que tiveram de enfrentar por causa de Cristo e do Evangelho», afirmou D. Manuel Quintas, referindo-se à segunda leitura, que relatava a exortação de Paulo aos cristãos do seu tempo para que confiem em Deus, «de modo a não esmurecerem na fé e na adesão a Cristo face aos sofrimentos a que são sujeitos».
«Tal como o martírio do diácono Estêvão foi uma referência para a Igreja nascente de Jerusalém e o martírio do diácono Lourenço o foi para a Igreja de Roma, também o martírio do diácono São Vicente contribuiu para o fortalecimento e a maturidade da fé das comunidades do sul da Península Hispânica», lembrou o Bispo do Algarve.
O Prelado recordou igualmente a perseguição aos cristãos, implementada pelo imperador Diocleciano, em finais do século III, «com o objectivo de eliminar todos os factores que podiam enfraquecer a sua unidade e conduzir à sua decadência». «Perseguição que seria particularmente feroz na Igreja de Saragoza, conduzida pelo governador Daciano, que não poupou o Bispo Valério, e muito menos o diácono Vicente, a quem foi aplicada toda a espécie de tormentos», acrescentou D. Manuel Quintas.
Vicente, a quem «nada, nem ninguém conseguiu desviar da sua firme convicção», «testemunhou com o seu martírio a firmeza da sua fé em Cristo e o seu amor à Igreja», considerou o Bispo diocesano. «Cristo foi o verdadeiro vencedor em Vicente. Vencedor, em sua vida, pela sua diaconia, e também pelo seu martírio e vencedor após a sua morte, pois o governador tudo fez para se ver livre do seu corpo não o tendo conseguido», afirmou D. Manuel Quintas.
Lembrando que «sangue de mártires, é semente de cristãos», o Bispo do Algarve salientou o contributo do exemplo de Vicente para o fortalecimento da Igreja. «O martírio do diácono Vicente foi verdadeiramente semente lançada à terra na Igreja de Valência que depressa germinou e frutificou em todo o sul da Península», frisou. «Também nós hoje aqui, como Igreja diocesana do Algarve, somos herdeiros do seu testemunho e da sua influência no fortalecimento da fé de quantos aqui, marcados pelo seu exemplo, a viveram, a celebraram e a foram transmitindo através das gerações», complementou, acrescentando que «esta íntima ligação de São Vicente ao crescimento da Igreja no Algarve levou o Bispo D. Francisco Gomes d’Avelar a proclamar São Vicente, o padroeiro principal da nossa diocese».
A terminar, D. Manuel Quintas, em jeito de balanço da celebração no Algarve do “Ano Vicentino”, manifestou alguns desejos: «fica-nos o apelo a conhecermos melhor a vida de São Vicente, como diácono e o seu testemunho como mártir, para melhor o venerarmos, mais assíduamente invocarmos a sua protecção e mais esclarecidamente seguirmos e imitarmos a heroicidade do seu testemunho de fé».
«Queridos diocesanos, que a celebração e invocação do nosso patrono nos obtenha de Deus um novo impulso do anúncio e do testemunho do Evangelho, uma renovada consciência da nossa herança espiritual, herança do passado, mas também projecto para o futuro que deve ser transmitido às novas gerações com a fé, com vigor e o entusiasmo dos mártires. Que ele nos obtenha de Deus uma resdescoberta das nossas origens, um reavivar das nossas raízes, de modo a não deixarmos cair os braços, a não cedermos ao desânimo, a não nos resignarmos com formas de pensar e de viver que não têm futuro, porque não assentam na sólida certeza da palavra de Deus, nem no testemunho e na herança que nos legaram os mártires» acrescentou, terminando.