Nacional

Cultura e pobreza na mira da Cáritas de Coimbra

Carlos Neves
...

No Domingo, 5 de Fevereiro, com a presença de 290 pessoas, realizou-se a XXX Assembleia de Grupos Sociocaritativos da Diocese de Coimbra, sob o tema “Cultura e Pobreza”. Da reflexão, orientada pelo Dr. Nuno Gonçalves, emergiu como ideia fundamental a necessidade de todos e cada um de nós fazermos um esforço permanente de mudança. A razão é simples: hoje, a cultura é mediada pela técnica, e como a técnica muda muito rapidamente, quem não fizer um esforço sério de mudança, corre o risco de ficar à margem da própria cultura, de ficar excluído. Por consequência, poderíamos dizer que a disponibilidade para aprender se configura actualmente como o primeiro grande acto cultural. Nesta mudança cultural mediada pela técnica ganha um relevo especial o computador, que por isso mereceu também largos momentos de reflexão, havendo basicamente duas conclusões a tirar: é extraordinariamente importante que as pessoas, mesmo as mais idosas, aprendam a usar esta ferramenta; apesar disso, esta ferramenta (a que podemos juntar outras, como o telemóvel ou vídeo…) sozinha não vale nada. Não se resolve nenhum problema cultural, económico ou educacional com o simples facto de dar um computador para cada aluno duma escola, ou para cada casa. O fundamental é a maneira como nós, comunitariamente, culturalmente, somos capazes de receber e trabalhar essa tecnologia. Informação e cultura não são, pois, a mesma coisa. Mais ainda, sendo as mudanças culturais hoje formatadas pela ciência e pela técnica, que evoluem muito rapidamente, isso cria clivagens culturais entre as gerações. Os grupos sociocaritativos tomaram consciência de que lhes cabe neste aspecto um papel fundamental, pois que a grande “peritagem” de que o mundo continua a precisar não é a dos computadores, mas a de “humanidade” como referia Paulo VI: “A Igreja é perita em humanidade”. Ser perito, para os grupos sociocaritativos, é ser perito em humanidade, comunitariamente, ainda que ser perito em humanidade, hoje, implique usar o carro, o telemóvel, o computador… Acresce que à mentalidade de “progresso” dos anos 70, se sucedeu no nosso tempo um clima de incerteza, insegurança e medo, que nos exige ainda um maior aprofundamento desta dimensão “humana”, afectiva” e, ao mesmo tempo, a participação activa com toda a humanidade na construção do futuro. Num outro tópico fundamental para o tema em debate, os grupos foram confrontados com o facto de a dimensão cultural ser hoje cada vez mais estrutural em relação à economia e à pobreza, sobressaindo daqui duas conclusões fundamentais: - o valor da cooperação é prévio ao valor da competição, ainda que actualmente a maioria dos grupos humanos se estruture em função da competição. À Igreja, e aos grupos sociocaritativos em particular, cabe um papel claro e inequívoco de promoção e vivência da cooperação; - numa sociedade estruturada pela técnica, quem não acompanha o desenvolvimento técnico fica à margem, fica excluído, fica empobrecido. Importa que os grupos se preparem para trabalhar neste contexto, não fujam da competitividade, não se recusem a tentar compreender, não deixem de ser permanentemente reflexivos, na consciência de que “o acto cultural por excelência é aceder a dimensões cada vez mais profundas, mais solidárias, mais abertas ao mundo, mais úteis às pessoas”.


Caritas