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Cultura: Poesia é arte da «resistência», dizem Ana Luísa Amaral e padre Tolentino Mendonça

Agência Ecclesia
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Crentes têm «dívida incalculável pelas mulheres e homens que narram a palavra»

Braga, 17 nov 2012 (Ecclesia) – A poetisa Ana Luísa Amaral e o padre José Tolentino Mendonça afirmaram hoje em Braga que a poesia é uma arte da “resistência”, a que também se recorre para “salvar” as pessoas e o mundo.

Durante o encontro “Narrar a vida torna-a mais preciosa?”, que decorreu no Salão Medieval da Universidade do Minho, Ana Luísa Amaral contou como escrever poesia a salvou durante uma fase da sua vida, enquanto que o poeta vincou que o ofício da escrita contribui para “salvar o mundo”.

A conversa fez parte do programa do “Átrio dos Gentios” projeto do Vaticano para o diálogo entre crentes e não crentes que começou esta sexta-feira em Guimarães e termina hoje em Braga para debater o tema “O valor da vida”.

Perante cerca de 300 pessoas presentes na sessão, Ana Luísa Amaral sublinhou que a poesia pertence à esfera do “supérfluo”, ao mesmo tempo que é “absolutamente necessária”.

A poesia “é uma linguagem de intensidades” que fala “à cabeça e ao coração”, contém o “silêncio” e convoca a “alegria”, podendo tornar-se potenciadora do “devir”, disse Ana Luísa Amaral, que se apresentou como uma pessoa não crente à “procura” de Deus.

Num mundo que se caracteriza pelo “excesso de armas, consumo, imagens que substituem a realidade, a ausência”, a “maior ameaça” poderá ser a “aceitação da diminuição dos afetos e a tristeza como inevitável”, assinalou.

A “palavra” tem sido “muitas vezes” para o diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura “o caminho e a âncora”, e é também “um lugar comum onde crentes e não crentes se encontram”.

“Nós, crentes, temos uma dívida incalculável pelas mulheres e homens que narram a palavra”, salientou, antes de enaltecer o “trabalho feito de minúcia e entrega” dos escritores, que respondem a uma “vocação eminentemente espiritual e humanista”.

A narrativa, seja do “sofrimento” seja do “assombro”, permite “entrecruzar a vida com outras vidas”, acentuou o padre Tolentino Mendonça, acrescentando que “a literatura é a impossibilidade de adiar o sonho e o desejo de uma vida autêntica”.

Ao lado do Breviário [Liturgia das Horas, livro de orações diárias da liturgia católica], o sacerdote tem uma biblioteca, e é dessas duas fontes que experimenta “o poder da palavra”.

O escritor Valter Hugo Mãe, que estava anunciado para este encontro, não marcou presença no Salão Medieval da Universidade do Minho, onde em seguida se vai iniciar o debate "Vida pessoal e vida coletiva na identidade cultural - psicologia e história", com Aldina Duarte, Carlos Amaral Dias e Vasco Graça Moura.

O ‘Átrio dos Gentios’, que pode ser seguido em direto com emissão vídeo online assegurada pela Agência ECCLESIA, em parceria com o portal SAPO, termina com a ‘Missa Brevis’, de João Gil, marcada para as 21h30 na Catedral de Braga.

RJM



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