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D. Eurico aponta desafios para a Igreja em Portugal

Diário do Minho
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O diálogo ecuménico e inter-religioso, a relação com o Estado laico e o reforço da acção sócio-caritativa são, segundo D. Eurico Dias Nogueira, os grandes desafios que a Igreja Católica portuguesa deve enfrentar, para continuar a ser fiel ao espírito do II Concílio do Vaticano. No âmbito do 40.º aniversário do encerramento do maior acontecimento eclesial do século passado, o Arcebispo emérito de Braga disse ao Diário do Minho que «o diálogo com os cristãos não católicos e inter-religioso deve estar, de forma permanente, na agenda da Igreja». «O movimento ecuménico é imparável e tenho pena que não avance mais rapidamente. Mas há que ter em conta a lenta evolução das mentalidades. O diálogo não acontece por decreto», explicou o ex-titular da cátedra arquidiocesana, que participou na terceira e quarta sessões conciliares e na respectiva cerimónia de encerramento, que decorreu na Praça de São Pedro. Ao invés, o prelado bracarense lamentou «o afastamento por parte de muitos políticos e intelectuais de raiz cristã da perspectiva doutrinária da Igreja. Em determinadas figuras públicas existem preconceitos em relação à Igreja e alguns procuram mesmo reduzir a sua acção à sacristia. Uma coisa é não existir uma religião oficial, mas outra é haver um ataque permanente a todas as manifestações religiosas. Não se pode aceitar esta atitude». Por outro lado, D. Eurico Dias Nogueira acabou por defender um maior envolvimento das instituições sócio-caritativas «nas grandes problemáticas, tal como a fome, doenças e desigualdades económico-sociais», já que, «em Portugal, mais de metade das obras de assistência social pertencem ou estão ligadas à Igreja Católica». Novidade entusiasmante «Aceitei a notícia da realização do Concílio com entusiasmo», contou o prelado, que, em 1964 e entre a segunda e a terceira sessão, foi nomeado Bispo de Vila Cabral, em Moçambique, e recebeu a convocatória para estar presente na terceira sessão conciliar. «Pretendia-se adaptar a Igreja às novas condições sociais, para que soubesse agir melhor num mundo em constante transformação», explicou o Arcebispo emérito de Braga, que participou nas votações e assinou pareceres colectivos e mesmo um individual sobre determinados assuntos. Decorridas quatro décadas, D. Eurico Nogueira não vislumbra a necessidade da realização de um novo concílio, «pois a Igreja já conta com estruturas capazes de avaliar e responder às diversas necessidades». «Apesar disso, vejo vantagens em concílios periódicos (já houve 21), porque são a expressão máxima da Igreja. Estes têm outra capacidade para resolver as grandes questões eclesiais e para fazer aplicar as suas decisões», destacou o prelado, que acrescentou, a título de exemplo, que «o Concílio Vaticano II apurou o sentido da colegialidade e proporcionou o incremento das diversas estruturas eclesiais que se conhecem, tais como as conferências episcopais e os conselhos presbiterais, económicos e pastorais».


Concílio Vaticano II