A unicidade sindical e a lógica revolucionária, sem olhar a que nem a quem, ergueram muros, perfeitamente iguais aos que dividiram pátrias e almas
D. Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança, defende que “o respeito pelos mortos nada pode esconder”, ao comentar na sua crónica semanal as mortes do “General Vasco Gonçalves e do Dr. Álvaro Cunhal”.
“Os processos de hegemonia política, as desconfianças perante o estatuto de um socialismo em liberdade, a unicidade sindical e a lógica revolucionária, sem olhar a que nem a quem, ergueram muros, perfeitamente iguais aos que dividiram pátrias e almas. Afirmar o contrário é entrar no coro de iguais”, escreve.
O prelado lembra que “na trincheira da oposição (antes de 1974), as cores, apesar de tudo, não tiveram tanto essa função de cortinas... O inimigo comum criava a psicologia da frente”.
“Sonharam-se os possíveis e os impossíveis; e, nisto, como em outros devaneios, fazer política era construir poesia e poetar era fazer votos de que a “cidade” bebesse outras regras e se alimentasse de outras fontes”, acrescenta.
Acenando à história recente do país, D. Januário assinala que “o desenho da pátria ancorava-se nestas aspirações e os possíveis, ardentemente desejados, eram a visão de um mundo humanizado, sem opressões, sem desníveis do poder ou do ter, com uma música de fundo a vibrar com o resgate dos servos da gleba, de um povo atirado para a incultura e o não saber”.
“E os possíveis de um “homem novo” nasciam de sensibilidades feridas e de disposições lutadoras, significando a recusa da “desordem estabelecida”. Qualquer um de nós, na mediania do patriotismo, entraria nesse cortejo cívico, alinhado pelo carácter da moral humana e pela repugnância dos escombros, onde um “coro de escravos” não podia ser equivalente a uma sociedade de seres humanos, dignos, inteligentes, iguais...”, indica.
“Não foi este olhar que dividiu milhões de portugueses. Esta fotografia não foi tapume; foi mancha branca, ao fundo da nossa história, por onde perpassaram imagens e situações, que nos feriam a honra. Logo no pós 25 de Abril (tenho provas documentais a fundamentá-lo) todos – quase todos – foram do parecer que um regime estava moribundo. Não fujamos desta avaliação”, conclui o Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança.