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D. Januário Torgal Ferreira pede análise às raízes do terrorismo

D. Januário Torgal Mendes Ferreira
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Para muitas pessoas, Londres representou sempre uma fonte de optimismo e de salvação. Foi nesta cidade que muitos desenganados da vida encontraram, senão a mais radical estabilidade, ao menos motivos para prosseguirem corajosos e cheios de esperança. Nem todos se encontraram com terapêuticas solucionadoras. Mas muitos e muitos, para além da saúde conquistada, fizeram de Londres um símbolo de messianismo. Aí se começou a existir, após doença grave. O contraste desta última semana com a sementeira de corpos ceifados, de feridos graves e com o pavor da violência, que poderá doravante vir a manifestar-se, transforma Londres, sem cairmos em exageros, numa estância de risco. O terrorismo, agressão sem contornos e submissão à lógica do terror, é um crime condenável, nos seus efeitos, nos seus métodos, na sua irracionalidade. Cobarde na iniquidade, tresloucado na planificação, totalitário no medo propositadamente semeado, é um monstro à solta, de que é prova a hecatombe, seu rasto e sobrevivência. Nada o justifica nem motiva. A desproporcionalidade do fantasma radica na sua indignidade mas decorre do seu vazio. Como várias vezes tenho acentuado, é fundamental perceber-se as suas raízes, os seus despropositados índices, a sua genealogia. Não há motivos que o expliquem e o desculpabilizem no sentido da correspondência possível entre as causas e os efeitos da mortandade. Mas é urgente traçar a história deste sistema destruidor nos seus períodos mais remotos e nas complexidades do presente. No horizonte, ao lado de outras, está a questão do Iraque, tão descuidada como empresa bélica. Vingança, metodologia de agressão psicológica noutros terrenos, dado que, no face a face, o combate não resulta, sequelas de fanatismo religioso (perdendo o fanatismo qualquer direito para se adjectivar de sacral), vingarão estas e outras tantas hipóteses explicativas? A maior parte dos muçulmanos não é responsável por estas desgraças. Mas há uma minoria que o é, devendo repetir-se que a utilização da mortandade os demite, automaticamente, da sua condição religiosa. Entretanto há quem ponha as mãos à cabeça, e sem a mínima ponderação, avance com o prognóstico da invasão da Europa pelo Islão, muito em breve. Mas porquê? Terrorismo, como termo, surgiu por volta de 1794. Tratou-se de um conceito criado no período posterior à queda de Robespierre para designar a política de terror dos anos de 1793 – 1794. Como modo de acção violenta e clandestina utilizando a estratégia da destruição ao serviço de um projecto político, o terrorismo vai surpreendendo espaços e geografias. Qual a próxima cidade a ser atingida? Lamentavelmente há fundamentos para a interrogação. Tragicamente. D. Januário Torgal Mendes Ferreira, Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança


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