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D. Manuel Clemente: «o jogo republicano»

José Carlos Patrício
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Defesa da posição da Igreja na sociedade exige formação dos cristãos

O bispo do Porto, D. Manuel Clemente, pretende que os católicos insatisfeitos com o ordenamento jurídico português intervenham activamente na vida política, embora respeitando as regras do regime republicano.

Como todos os outros cidadãos, os católicos estão inseridos na «Res Publica» (coisa pública), pelo que “se hoje não estão de acordo com a legislação, então, concorram, vão às urnas, entrem no Governo, modifiquem a legislação, mas joguem o jogo republicano”, frisou o prelado em declarações à ECCLESIA.

Perante uma sociedade contemporânea cada vez “mais complexa, em posições, contraposições, afrontamentos e discussões”, cabe à Igreja “entendê-la e entender-se nela”, referiu o presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais.

Para D. Manuel Clemente, o que está em causa na intervenção da Igreja na sociedade nunca é o tipo de regime ou a cor política no poder, mas as posições que são assumidas.

É neste quadro que se entende a uma responsabilidade das comunidades cristãs de projectar uma República eficaz e moderna, tornando-a num espaço aberto e consensual.

O prelado recuou ao tempo da I República, sublinhando que a distinção entre “causa católica e causa partidária” já estava feita quando o Papa Leão XIII indicou à Igreja portuguesa que não confundisse as duas matérias.

“Os bispos portugueses, mesmo na reacção à Lei da Separação [20 de Abril de 1911], deixaram isso bem claro. O problema não era o regime, mas o modelo que ele queria impor para a organização católica e onde a Igreja não cabia”, reforçou D. Manuel Clemente.

Formação dos cristãos é urgente

A Implantação da República, a 5 de Outubro de 1910, trouxe uma profunda alteração para a presença e papel da Igreja na sociedade portuguesa. A mudança de regime quebrava todo o tipo de relacionamento próximo entre a Igreja e o Estado que tinha sido construído durante os séculos da monarquia.

A entrada em vigor da chamada Lei de Separação seria o ponto de viragem, que levaria as instituições católicas a um trabalho de reconversão perante medidas que favoreciam a laicização.

“Aqueles anos a seguir à República foram anos de uma construção mobilizadora interna da própria Igreja, e isso é sempre o que nós temos a aprender nos momentos de conflitos de valores” salientou D. Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa

Num século de avanços e recuos nas relações entre a Igreja e o Estado, as instituições religiosas conviveram com a opressão da I República, a aproximação com o Estado Novo e a coexistência, ainda que com divergências, com a democracia pós-25 de Abril.

Um tempo cheio de mudanças, mas que trouxe também uma maior responsabilidade, no que diz respeito à participação das instituições católicas e dos fiéis na construção da sociedade.

Independentemente do tipo de Governo que está no poder, a defesa da posição da Igreja na sociedade de hoje só é possível através da formação dos cristãos, indicou D. Carlos Azevedo.

“Se nós não formarmos, não só elites culturais mas também os cristãos nas comunidades cristãs, depois não temos pessoas que defendam esses valores no dia a dia da sociedade, através do voto, por exemplo”, realçou o especialista em História Religiosa.



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