A Diocese do Algarve viveu no passado fim-de-semana as Jornadas Paulinas, convocadas pelo Bispo da Diocese. Na da iniciativa, D. Manuel Neto Quintas desejou que a vivência do Ano Paulino que a Igreja está a celebrar em todo o mundo, e também na diocese algarvia com a realização de várias iniciativas, entre as quais esta que hoje se iniciou, possa constituir para os cristãos algarvios “um tempo oportuno de conversão interior e de renovado estímulo pessoal e comunitário”.
O prelado, na palavra de introdução e acolhimento que dirigiu à assembleia composta por quase 300 participantes, vindos um pouco de todo o Algarve, desejou “que o conhecimento mais profundo de Paulo e particularmente o testemunho e o exemplo da sua conversão a Cristo, e o modo como consagrou a sua vida e saber ao anuncio do Evangelho” proporcione aos cristãos algarvios “perceber e acolher a importância da centralidade de Cristo” na sua vida pessoal e na vida das suas comunidades cristãs, que os “ajude a assumir do modo mais pleno o sentido e significado dos sacramentos de iniciação cristã” e sobretudo, que os mobilize para uma “participação eclesial mais fiel e co-responsável no anuncio e no testemunho do Evangelho”.
O Bispo diocesano explicou ainda que as Jornadas Paulinas inserem-se no programa da diocese para este Ano Paulino, iniciado com uma celebração ecuménica, na Sé Catedral, em Junho passado, no próprio dia em que tiveram início as comemorações dedicadas a São Paulo.
D. Manuel Quintas explicou então que o referido programa é composto ainda pela participação numa celebração nacional no dia 5 de Janeiro (Festa da Conversão de São Paulo), em Fátima; pela participação, para o clero, numa formação teológica para as dioceses do Algarve, Beja e Évora a ter lugar na Arquidiocese de Évora, sobre São Paulo; e uma celebração diocesana, no dia 28 de Junho, que assinalará o Dia Diocesano do Catequista, procurando a Igreja algarvia salientar este serviço do anuncio do Evangelho, de que o apóstolo convertido é modelo.
Necessidade de conversão
Posteriormente, o Bispo Emérito do Algarve. D. Manuel Madureira Dias, abordou “Os desafios de São Paulo à evangelização na Igreja particular”.
O prelado começou por constatar que “a conversão de Paulo não foi uma passagem do paganismo para o Cristianismo, de uma vida vulgar, sem valores e sem critérios, para uma vida oposta, uma passagem da ausência de Deus para uma vida com Deus”. “Foi uma mudança de direcção e de objectivos de vida, foi uma passagem da observância da lei para a observância da fé, de um Deus-lei para um Deus-amor, de um Deus solitário e único para um Deus que é Pai e nos fez chegar a salvação por meio do seu Filho morto e ressuscitado”, observou, salientando que, “a partir deste encontro, Paulo não sabe, nem quer saber de mais nada a não ser de Cristo”.
“Paulo tem consciência de que fora escolhido para levar a Boa Nova de Jesus Cristo ao mundo pagão”, complementou D. Manuel Madureira Dias, lembrando que o apóstolo tem de enfrentar “autoridades pagãs, judeus tradicionalistas e cristãos mal-convertidos”.
Detendo-se detalhadamente sobretudo na contextualização da sociedade e dos problemas da época, na análise e motivação dos escritos paulinos e na sequenciação do itinerário percorrido por Paulo, o Bispo Emérito do Algarve constatou que a “«praga» da divisão dentro da Igreja vem destes tempos” e que a “«praga» de haver sempre umas vozes discordantes a tentar voltar ao conservadorismo também já existia no tempo de Paulo”.
D. Manuel Madureira Dias observou que “anunciar a Boa Nova de Cristo hoje, tal como no tempo de Paulo, não é tarefa fácil”. “Hoje o Evangelho é uma proposta de vida que entra em choque com o mundo paganizado, onde se cultivam os «deuses» e se recusa, muitas vezes, prestar culto ao Deus vivo, verdadeiro e único”, complementou, interrogando: “quem se disporá a acolher Deus e os seus planos, se anda mergulhado e embebido noutros planos como o do dinheiro, do poder, do prestígio, do prazer, das honrarias e vaidades deste mundo?”.
“Hoje existem autoridades que, não nos ameaçando com prisão, dificultam, o mais que podem, o anúncio de Cristo porque pregam um laicismo por meio de todos os poderosos instrumentos de que dispõem”, caracterizou, passando a identificar a acção que se impõe hoje, tendo em conta o modo como Paulo evangelizou.
Considerando que o apóstolo “evangelizou com grande ardor apostólico”, “com uma linguagem adaptada aos ouvintes”, com “uma metodologia ainda actual”, em que “os que presidiam à comunidade eram seus coordenadores para a fazer crescer na fé e isso acontecia em pequenos grupos”, “comunidades que reuniam em casas de famílias convertidas ao Senhor Jesus”, que “procurou a colaboração dos leigos”, e que “mantinha contactos frequentes com as comunidades”, D. Manuel Madureira Dias aconselhou a Igreja particular do Algarve, a fazer o mesmo, sublinhando que “quem verdadeiramente encontrou Cristo não pode guardá-l’O para si”.
“Se as circunstâncias do mundo presente têm muito de comum com o tempo de São Paulo, busquemos nele a inspiração para o nosso trabalho apostólico, para além de um amor apaixonado por Jesus Cristo, lembremos algumas das suas linhas de acção que se conservam ainda actuais: uma grande paixão missionária deve ser cultivada, a primazia ao trabalho com pequenos grupos, a adaptação da linguagem aos destinatários, a entrega aos leigos das tarefas que lhe são próprias e a responsabilização pelo seu desempenho, os contactos frequentes com as comunidades que vão crescendo na fé e no amor a Jesus Cristo”, exortou, lembrando que “para quem coloca no Senhor todo o seu ser, face a Ele tudo é considerado como lixo e como perda”.
“Se verdadeiramente acreditamos no mistério da morte e ressurreição de Cristo temos de nos render diante do amor que Ele nos tem. Então necessariamente nos apaixonaremos por Ele como o Apóstolo. Se Cristo deu a vida por nós, também nós devemos dará a vida por Ele. É por isso que somos convidados a dar tudo para O anunciar e dar a conhecer”, concluiu.