Deficiência: Igreja quer reforçar competências
«Pessoas que precisam de uma atenção especial» devem deixar de sentir-se «excluÃdas», avisa Alice Cabral, responsável do setor
Lisboa, 03 dez 2012 (Ecclesia) – A Igreja Católica portuguesa quer reforçar competências ao nível do apoio pastoral às pessoas com deficiência, através da formação dos seus agentes, da aproximação às famílias e da valorização de boas práticas já existentes.
Em entrevista concedida ao programa ‘70x7’ (RTP 2), no âmbito do Dia Internacional da Pessoa com Deficiência que hoje se assinala, Alice Cabral sublinha que a comunidade católica tem de “começar a olhar para esta problemática”, para evitar que “pessoas que precisam de uma atenção especial” se sintam continuamente “excluídas”.
Apesar de representar o Serviço Pastoral à Pessoa com Deficiência (SPPD), aquela responsável sustenta que a Igreja deve estender esta procura de soluções para integrar a diferença a “todas as áreas da vida”, porque as carências são “enormes”.´
Criado em 2010, sob a coordenação da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, o SPPD tem trabalhado no sentido de identificar os principais desafios que se colocam às instituições católicas, em matérias de acolhimento e evangelização das pessoas com deficiência.
Em causa está sobretudo a necessidade de combater o atraso de Portugal neste campo, relativamente a outros países, através da promoção de uma maior abertura das comunidades cristãs, dos seus espaços e celebrações, da aposta na formação de recursos humanos e do desenvolvimento de materiais pedagógicos adequados a crianças, jovens e adultos com necessidades diferentes.
Telmo Fernandes, o primeiro surdo a licenciar-se em Direito em Portugal, recorda alguns dos obstáculos com que uma pessoa da sua condição se pode deparar ao entrar num local de culto.
“Um surdo entra numa Igreja e vai fazer o quê? Se não ouve, na confissão também, como é que ele vai expor os seus pecados com o padre? Também a compreensão da Bíblia, os surdos têm curiosidade em saber o que é que está escrito mas é difícil o acesso à informação”, salienta.
Atualmente, poucas paróquias celebram missa em linguagem gestual e no campo dos sacerdotes, são ainda menos os que sabem comunicar com pessoas com deficiência auditiva.
Isabel Vale, do SPPD, diz que é preciso reforçar as “boas práticas” existentes mas que se encontram “dispersas”, aprender com países que têm experiência feita, em alguns casos, “há 50 anos”, e desenvolver um “trabalho estruturado e competente”.
Caso contrário, “catequistas e pais” continuarão “abandonados à sua boa vontade, a alguns instrumentos que vão [[v,d,3635,]]encontrando, a alguns livros que mandam vir de fora”, conclui.
O Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, instituído pela Assembleia Geral da ONU, tem como objetivos sensibilizar, mobilizar e comprometer toda a humanidade para a concretização dos Direitos Humanos destes Cidadãos, reafirmados na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.
A opção pelo dia 3 de dezembro, prende-se com a data de aprovação do emblemático Plano Mundial de Ação da ONU, em 1982, resultante das dinâmicas e das expectativas criadas no Ano Internacional da Pessoa com Deficiência, em 1981.
Bento XVI associou-se este domingo a esta comemoração, pedindo às comunidades católicas uma maior atenção às necessidades daqueles “irmãos e irmãs” e aos governantes e políticos que criem as condições necessárias para a “plena participação” das pessoas com deficiência “na vida da sociedade”.
70x7/JCP/OC
Pessoa com deficiência