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Desafios para os cristãos de hoje

Lígia Silveira
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Procurar formas de hoje, ser e vivenciar a igreja. O Movimento Católico de Profissionais estiveram este fim de semana reunidos, em Albergaria-a-Velha, no 17º Encontro de Reflexão Teológica. É uma experiência pequena, mas “que pode ser lugar de interpelação para os mais novos e capaz de mostrar lugares de fé”, explica à Agência ECCLESIA, Maria Alfreda Fonseca, da equipa responsável pela organização. Este encontro revisitou o olhar proveniente do Concílio Vaticano II sobre a sociedade do séc. XX, depois da Constituição Gaudien et Spes, que estabelece a relação Igreja/Mundo “em novos moldes e na forma como hoje se actualiza na experiência dos cristãos”, concretamente entre o Metanoia. “A memória de Jesus faz-se presente nas comunidades históricas, há sempre uma adequação da mensagem para qualquer época”, afirma a responsável. A Igreja enquanto povo de Deus, “caminho dentro da história, em ligação com esses acontecimentos. Isso tem implicações na ecclesiologia, mas também ao nível da relação e empenho dos cristãos na sociedade”. Nesse sentido, todos os anos, estes encontros contam com o auxílio de um teólogo, este ano com Isabel Varandas, professora de teologia da UCP em Braga, que ajudou à reflexão. O itinerário proposto começou nas comunidades históricas até à actualidade, “focando questões como secularismo, o pluralismo na sociedade, a co-responsabilidade vivida mesmo no governo da Igreja, ou na busca de dimensões concretas onde os cristãos se devem empenhar”. Criar lugares de acolhimento e de fraternidade são formas de compromisso, mas “é importante também ajudar a decifrar uma linguagem que muitas vezes é vista como obstáculo a que a mensagem passe, pois é vista como «datada» ou como proibições que dizem pouco à sociedade”. Todas as formas de organização são, em si, formas históricas, “mas é enquanto comunidade eclesial que se vive a fé, onde também é necessário encontrar novas formas de viver”. A vivência da fé “diz pouco a vários segmentos da nossa sociedade, caracterizada pela urbanidade, escolaridade, para os quais a fé é vivida através do testemunho concreto através de formas de empenhamento”. Enquanto profissionais católicos, “acreditamos que a profissão é um local importante de evangelização, mas que tem um lugar natural na nossa estrutura enquanto pessoa”. Nas relações laborais “é normal que se criem laços e se abra caminho para que outros entrem também nesta dinâmica”. Maria Alfreda Fonseca é professora no ensino secundário. “Na minha escola várias pessoas conhecem a minha participação no Metanoia e que sou católica”. Relembra que diversas vezes ser interpelada por colegas quando há uma posição da Conferência Episcopal Portuguesa, “e me pedem uma tradução em linguagem corrente”. Dúvidas que tenta «traduzir», mas desmistificar o facto de parecer “que a linguagem eclesial é distante”. E o contrário também acontece. Os cristãos devem também traduzir a vida para os eclesiásticos. “Facto pedido inclusivamente por D. António Francisco dos Santos”, refere, pois “os posicionamentos da Igreja têm de ser bem fundamentados em leituras reais da sociedade”. Nesse sentido, os movimentos de Igreja “são uma ponte para estabelecer o diálogo da Igreja com a sociedade”. Os encontros começam com o testemunho de algumas pessoas que “partilham a sua experiência não só pessoal mas numa visão interpeladora”. Quatro testemunhos muito diferentes que “mostram os desafios que a vivência cristã propõe”. A dimensão de família e de convívio está também contemplada nestes encontros, nomeadamente através de dinâmicas criadas para os mais novos. “É muito interessante, ver, ao longo dos anos, crescer a geração dos nosso filhos já envolvidos nestas dinâmicas”. Maria Alfreda Fonseca valoriza ainda a forma “aberta como as questões são colocadas, onde as intervenções de fundo têm lugar, proporcionando uma reflexão plenamente conjunta”.


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