Nacional

Diferença e a hospitalidade: valores prioritários para a Europa

Luís Filipe Santos
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Realçou a teóloga portuguesa, Isabel Varanda, nas V Jornadas de Teologia do Instituto Teológico Compostelano

“A Europa não sobreviverá unida se não acolher nas suas entranhas as diferenças que a habitam. Acolher não como contingências apendiculares que, frágeis e fragilizadas, se diluem no corpo, mas reconhecer as diferenças como as suas próprias entranhas” - afirmou Isabel Varanda, professora da Faculdade de Teologia-Braga, em Santiago de Compostela, na conferência que encerrou o segundo dia das V Jornadas de Teologia do Instituto Teológico Compostelano subordinadas ao tema “Fé cristã e futuro: fundamentos e horizontes da cultura europeia”. Na sua intervenção, Isabel Varanda realçou que tanto a diferença como a hospitalidade, como valores, fundamentam-se “na inalienável dignidade do ser humano”. Da luz de cada um deles, referiu também a teóloga, “a Europa não pode esconder-se ou mergulhará numa longa noite sem estrelas e sem aurora”. O mesmo se diga da liberdade, igualdade, solidariedade, segurança, justiça e paz, valores que “suscitam consenso alargado no seio do continente europeu”. Congregada por culturas, línguas, religiões, ritmos, identidades e histórias diferentes, a União Europeia terá prosperidade e paz, segundo Isabel Varanda, se “aprender a viver na diferença”. Ou seja, se for uma “Europa plural não por resignação, mas por vocação” - acrescentou Isabel Varanda. E alertou: “Os programas formais e informais de educação nos diferentes Estados-membros da União Europeia não têm contemplado a educação para a diferença nem como prioridade, nem tão-pouco como valor. Ao contrário, o que aparece como diferente provoca receio, muitas vezes repulsa, rejeição e violência” - disse a conferencista. Isabel Varanda propôs ainda que, “no coração da Europa”, além da diferença, deve ter lugar também a hospitalidade. “A União Europeia nunca será nem unida, nem justa, nem próspera, nem pacífica, se todas as Nações, no seu seio, na prática das relações humanas recíprocas, e na sua abertura aos outros continentes, não tiver como valor polar a hospitalidade. Não uma mera hospitalidade de princípio, mas uma hospitalidade prática, elevada à instância de dever, que passa pelo cultivo de um respeito inviolável pela história do outro, da sua identidade, da sua bagagem cultural, política e religiosa; ou seja, um respeito inviolável pela diferença do outro, mormente do outro em sofrimento”. Só uma cultura que “educa para o valor da hospitalidade e da diferença” aprenderá a gerir as diferenças, “não vendo nelas uma ameaça, um perigo a evitar, ou mesmo um inimigo a eliminar, mas a condição da sua plenitude, da sua prosperidade pacífica, e da sua alegria” — explicou a teóloga.


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