Beata Alexandrina é «modelo de vida» na celebração e vivência da Eucaristia
O Arcebispo de Braga espera que o Ano da Eucaristia, que termina hoje, tenha aberto «perspectivas de renovação» na celebração e vivência do principal sacramento da Igreja. D. Jorge Ortiga espera também que a Beata Alexandrina de Balasar, onde teve lugar ontem o encerramento do Ano Eucarístico na Arquidiocese de Braga, seja encarada cada vez mais como um «modelo de vida» cristã. «A Beata Alexandrina foi mulher de sofrimento que a Eucaristia transformava em serenidade e alegria pacífica. Peço ao Senhor o dom de celebrações retemperadoras das energias, como momentos de paz e serenidade », afirmou o Arcebispo Primaz na missa campal celebrada no campo de futebol de Balasar.
Uma celebração que movimentou mais de 40 mil pessoas, segundo os organizadores, e que não terminou com uma procissão eucarística até à igreja paroquial, como estava previsto, por causa da chuva. A homilia do Arcebispo de Braga foi escutada em boas condições graças ao empenho dos responsáveis da Paróquia de Balasar, já habituada a receber diariamente os devotos da Beata Alexandrina, sobretudo desde a sua beatificação em 25 de Abril de 2004. Foi uma «mulher alimentada pela Eucaristia», disse D. Jorge Ortiga, referindo-se ao facto de Alexandrina Maria da Costa, que faleceu em 13 de Outubro de 1955, ter-se alimentado apenas da Comunhão diária durante os últimos treze anos e sete meses.
«Parece duro viver. Estar com Jesus é sinónimo dum oásis encontrado para ultrapassar contrariedades que afligem e preocupam. O martírio místico da Beata Alexandrina ultrapassava-se na fé e no amor a Deus», afirmou o Arcebispo de Braga, acrescentando que «há sempre um lado belo da vida que a Eucaristia pode ajudar a descobrir». É neste sentido que a vida da Beata Alexandrina é modelo para que as celebrações eucarísticas «não sejam um acumular de tensões mas que em tudo resplandeça o conforto e a coragem para recomeçar sempre». Baseando-se também nas tribulações da “Santinha de Balasar”, como é conhecida popularmente, D. Jorge Ortiga apresentou-a como referência na procura de Cristo na Eucaristia, seja na celebração seja na adoração fora da Missa (exposição do Santíssimo Sacramento). E ainda como modelo da Reconciliação com os outros e com Deus.
«Peço ao Senhor que as nossas comunidades paroquiais acordem para este dinamismo da presença de Cristo, acolhendo-a e reconhecendo- a ausente em muitas situações da vida pessoal e da sociedade. Cristo está ausente de muitos dinamismos da sociedade portuguesa.
Se os católicos forem portadores da Sua presença, podemos acreditar num mundo melhor», disse. E «se as nossas confissões não forem meras cerimónias e se tivermos gosto em oferecer e viver o sacramento da Reconciliação, o nível da Eucaristia atingirá outros patamares. Necessitamos da experiência do perdão com a procura do sacramento da Reconciliação e com a disponibilidade dos sacerdotes para exercerem esta mediação carinhosa de Cristo que interpela a estar com Ele para viver com Ele e como Ele. Não há Eucaristia sem reconciliação e todos teremos de recuperar a experiência dum filho pródigo que se reencontra com o Pai. Esta é outra marca do Ano Eucarístico e outra graça da Beata Alexandrina », disse também o Arcebispo de Braga na missa ontem celebrada no recinto desportivo de Balasar, propriedade da paróquia.
«Homilias sem pessimismo»
Nesta celebração esteve presente mais de uma centena de sacerdotes e seminaristas. E eram muitas as bandeiras das Confrarias do Santíssimo Sacramento ou do Sagrado Coração de Jesus dispersas pelo campo de futebol. Prontas a serem levadas na procissão eucarística até à igreja paroquial de Balasar, onde teria lugar a bênção do Santíssimo Sacramento. E onde, se não chovesse, iam ser lidas as “recomendações pastorais” da Arquidiocese de Braga para que o Ano da Eucaristia tenha continuidade e efeitos.
Um conjunto de conselhos, dez no total em que ninguém fica de fora, a não ser aqueles que se dizem indiferentes a Cristo, à Igreja e, por conseguinte, ao valor da Eucaristia. Mas é também para eles que se deve olhar ao fazer-se uma análise do modo como é celebrado e vivido o sacramento principal da Igreja, apresentado como fonte e cume da vida e da missão da Igreja.
Porque, como ontem alertou o Arcebispo de Braga, a ausência de muitas pessoas baptizadas nas celebrações dominicais pode resultar da falta do «testemunho activo » por parte de quem se diz cristão e vai à Missa. O que muitas vezes falta é «ambiente de concentração nas celebrações e, por isso, elas cansam e esgotam. Também aqui a “ausência” daqueles que estão presentes não permite consciencializar-se da realidade misteriosa que se está a viver», disse o prelado, para quem «nunca se deve entrar numa igreja para se assistir a uma cerimónia».
«As coisas sublimes exigem cuidado e trabalho de harmonia com as possibilidades e responsabilidades. Urge celebrar e participar sempre na atenção de quem recebe uma Pessoa que nunca se conhece totalmente e está sempre a oferecer algo de novo», afirmou. E, por isso, «cada momento exige de todos — sacerdotes e leigos — algo de muito peculiar que não pode permitir hábitos ou rotinas». Aos padres, o Arcebispo Primaz pediu ontem que as missas «sejam mais anunciadoras da boa e alegre nova do Senhor», sem «homilias e comentários dominados pelo azedume e pessimismo ».
Aos leigos, pediu que «amem os seus sacerdotes », para que estes «se deixem apaixonar pelos mistérios que celebram». Porque, concluiu, «se é a Igreja que faz a Eucaristia, os sacerdotes, vivendo-a, podem e devem tornar a Eucaristia naquilo que é: Deus que se oferece» à humanidade em busca da salvação. Algo que só se consegue — disse também o Arcebispo de Braga — se houver «amor concreto e desejo de mudar».