Nacional

«É necessário uma programação de misérias»

Luís Filipe Santos
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Barbosa de Melo analisa o futuro de Portugal e os perigos de «matarem a Europa»

Uma sociedade laicizada por completo “mudará Portugal e a Europa. Apesar da França e de outros países, que cultivam o laicismo, imaginarem que a Europa pode fazer-se à margem dos valores cristãos cometem um erro gravíssimo” – disse à Agência ECCLESIA Barbosa de Melo, ex-Presidente da Assembleia da República. Com o referendo sobre o Tratado Constitucional à porta, Barbosa de Melo lembra que na base da “União Europeia estão três católicos e um deles tem um processo de canonização em curso, Robert Schumann. Três católicos profundos que tiveram antes deles um grande teórico e também católico, Jacques Maritain”. E adianta: “os que pensam que fazem uma Europa boa fazendo uma Europa laica – militante contra a dimensão religiosa – matam a Europa”. Barbosa de Melo proferiu esta manhã uma conferência na Universidade Católica Portuguesa (UCP) sobre “O momento político português”. Nesta iniciativa, organizada pela sociedade científica da referida Universidade, o orador deu uma «aula» de História Política. As nuances das várias constituições Portuguesas e o papel do Conselho de Estado estiveram em destaque. Depois de explicar a dissolução da assembleia pelo Presidente da República e a convocação do Conselho de Estado, de que faz parte, Barbosa de Melo disse aos participantes que o Presidente da República precisa de “poderes mais alargados”. Em relação à campanha eleitoral, o conferencista sublinha que “não se discutiram programas para o país” mas os portugueses votaram. Apesar do pessimismo instalado nas últimas eleições, dia 20 de Fevereiro, “os portugueses manifestaram uma grande confiança ao irem votar”. As pessoas acreditam que “participando podem mudar o rumo das coisas” – acentuou Barbosa de Melo. Participaram mas “censuram a sociedade política e sancionam quem não gostam.” No futuro “continuaremos a saga desgraçada da austeridade. É necessário fazer uma programação de misérias e não de farturas. Só sabemos programar farturas e não o combate à miséria”. Ao analisar os meandros da política, o ex-Presidente da Assembleia da República salientou que as pessoas apercebem-se “que existem muitos «jotistas»”. “Há qualidade no processo político mas também há muito carreirismo. Temos a ascensão a postos relevantes de pessoas sem qualificações para o efeito”.


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