Nacional

É urgente recuperar a memória histórica de D. António Ferreira Gomes

Octávio Carmo
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D. Manuel Martins critica perspectivas redutoras sobre o Bispo do Porto

Se estivesse vivo, D. António Ferreira Gomes cumpriria hoje 99 anos de vida. No início das comemorações do Centenário de nascimento daquele que foi Bispo do Porto entre 1952 e 1982, D. Manuel Martins refere à Agência ECCLESIA que é urgente recuperar a memória histórica do pastor, do teólogo e do filósofo. “Esta é uma figura que, por proclamar a dignidade do povo português, da Igreja e dos valores da pessoa, foi exilado”, lembra. D. Manuel Martins contesta os que reduzem os motivos do exílio à histórica "Carta a Salazar” de 1959, explicando que esta foi um “pretexto há muito tempo esperado” e não uma causa directa. “O que esteve em causa foi todo um magistério em que ele não deixava de pôr em evidência, por causa do Evangelho, aquilo que considerava fundamental na missão da Igreja e na defesa dos direitos fundamentais da população portuguesa, que eram burlados na Constituição do Estado Novo”, sublinha. O Bispo emérito de Setúbal é hoje o presidente da Fundação Spes, erigida por D. António Ferreira Gomes. No início das comemorações deste centenário, D. Manuel Martins critica os “apoucamentos” com que muitos abordam a vida e obra de um homem de Liberdade e Profecia. “Havia quem o acusasse de ser um intelectual frio, um homem de gabinete, que nada tinha a ver com a vida pastoral da Diocese. Isso é inteiramente falso, como está provado vamos voltar a provar com documentos e iniciativas várias da sua autoria”, contesta. “Só quem julga o pastor como o homem que anda pela rua a promover procissões e actos de culto é capaz de reduzir a missão do Bispo e apoucar D. António”, acrescenta. Para o presidente da Fundação Spes, não se pode esquecer a dinâmica nova que D. António Ferreira Gomes trouxe do II Concílio do Vaticano, que ajudou a preparar como membro da Comissão Pontifícia de Estudos Ecuménicos, por nomeação de João XXIII. O outro “apoucamento” a que D. Manuel Martins se refere tem a ver com os que consideram a missão episcopal de D. António Ferreira Gomes “mais política do que eclesial”. “Ele chamou muitas vezes a atenção para isso e até está publicado um livro, intitulado ‘A Igreja na Vida Pública’, no qual prova que foi em nome da sua fé e da sua missão que actuou em todas estas situações que menosprezavam o povo. Estas tomadas de posição poderiam ser consideradas políticas, como é normal quando se defende as pessoas em nome do Evangelho, mas ai da Igreja se não for política nesta sua preocupação por defender o homem”, sustenta o prelado. “D. António tinha a convicção de que para ser Bispo por inteiro não se podia esquecer desta actuação viva, prática, preocupada, no mundo dos homens”, insiste. D. Manuel Martins sugere que a obra do Bispo do Porto não causa ainda admiração devida entre nós “porque o nosso público espanta-se com a Quinta das Celebridades e não com obras extraordinárias”. “É fácil esquecer pessoas como esta, mas quem a estuda vê que ele realmente foi um profeta”, acrescenta. O presidente da Fundação Spes recorda com emoção “um filósofo e teólogo de grande profundidade, com toda a cultura que tinha, que sabia muito bem em que sentido se orientava a história”.


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