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Em busca de um Cristianismo para o século XXI

Agência Ecclesia
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O lugar do Cristianismo no século XXI foi o tema que reuniu no passado fim-de-semana, em Valadares (Gaia), um grupo de prestigiados filósofos, sociólogos e outros pensadores. A iniciativa não passou despercebida nos meios de comunicação social e assumiu-se como um momento diferente de reflexão sobre o espaço teológico e as suas implicações na definição da sociedade em que vivemos. “Deus no século XXI e o futuro do Cristianismo” foi o mote para as várias conferências, que passaram por temas tão diversos como o diálogo ecuménico e inter-religioso, o papel da mulher, a democracia, a globalização, a bioética ou Karl Marx. Em comum o facto de serem desafios que o Cristianismo e os cristãos têm de assumir. “O futuro do Cristianismo passa por assumir os grandes desafios da humanidade”, refere em declarações ao programa ECCLESIA o Pe. Anselmo Borges, organizador deste evento que assinalou os 75 anos da Sociedade Missionária da Boa Nova (SMBN). “A globalização, a genética, as neurociências, os media, todas essas questões devem ser assumidas pelos cristãos, porque os desafios à humanidade são os desafios à Igreja, aos cristãos e nomeadamente aos católicos”, acrescenta. O Pe. António Couto, Superior Geral da SMBN, explicou à ECCLESIA que a ideia de um Congresso nasceu da constatação de uma série de factos relacionados com a vida da Igreja. “O que nós notamos, cada vez mais, é que a mensagem dos padres muitas vezes não passa. Para passar talvez tenhamos todos de reflectir, não só pela palavra dita, mas também pela palavra que eu devo dizer: Deus não fala só pelos profetas, fala nos profetas”, aponta. Sobre o leque de personalidades escolhidas, este responsável assegura que a intenção era “que o Congresso, por ser muito aberto, chegasse a outras pessoas, porque isso também é ser missionário”. Os Missionários da Boa Nova são o único instituto exclusivamente missionário de fundação portuguesa. A pedido do Episcopado Português, foi fundado em 1930 pelo Papa Pio XI. É constituído por padres e leigos que se consagram por toda a vida à actividade missionária. Linguagem para hoje Uma preocupação constante nos trabalhos do Congresso foi a de se encontrar, na Igreja, uma linguagem para o mundo de hoje. “Eu, pessoalmente, sou muito sensível à procura, no normal dos Media, de sinais da Transcendência, tentando ver como é que Deus fala a partir de acontecimentos, linguagens e expressões de hoje”, referia Manuel Pinto, um dos conferencistas. O Superior Geral da SMBN, por seu lado, admite um “problema de linguagem” quando a Igreja procura falar “para este tempo, para este Homem que tem problemas que não existiam há alguns anos atrás”. “É necessário ter como pano de fundo a Teologia, mas também são necessárias as ciências do homem. Nós, que nos dedicamos a anunciar a Palavra, temos de saber a quem anunciamos”, ressalta. Dentro dessa procura da linguagem nova ganham destaque problemas como o papel da mulher ou a descentralização da Igreja, debatidos durante o Congresso. Para Anselmo Borges, “é necessário dar autonomia às Igrejas que estão em África, na Ásia, não podemos continuar a impor a todas uma História do Cristianismo que foi feita aqui na Europa”. “É necessário renovar a Teologia, vê-la num outro horizonte de compreensão”, acrescenta, ao mesmo tempo que acusa a “Igreja oficial” de excluir a mulher. “Se a Igreja não criar estruturas democartizantes não vai ter facilidades no mundo contemporâneo, pelo contrário”, vaticina. A mudança cultural e de paradigma que actualmente se vive na Europa foi uma das tónicas das diversas sessões do Congresso. Na conferência que concluiu o Congresso, o teólogo Johann Baptist Metz criticou duramente o texto do Tratado Constitucional da União Europeia, considerando que nele triunfou uma lógica laicista à francesa que, "no seu cerne, é antipluralista”.


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