Nacional

Empresários cristãos querem o homem no centro do mundo dos negócios

Diário do Minho
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Comportamentos éticos avaliados em lista de empresas

A Associação Cristã de Empresários e Gestores espera que seja implementada, já no próximo ano, uma lista que avalie os comportamentos éticos das empresas. Esta será uma das iniciativas subsequentes à aprovação do Código de Ética dos Empresários e Gestores, que deverá acontecer até ao final de 2004. Este documento, que ontem foi apresentado em Braga, pretende colocar o homem no centro do mundo dos negócios e afirmar a ética como uma mais-valia para o tecido empresarial. Durante a cerimónia de divulgação do projecto, que está em discussão até ao próximo mês de Outubro, José Roquete defendeu que a dimensão ética «não é um colete de forças», mas algo que «acrescenta valor à produtividade, competividade e qualidade das empresas». Em seu entender, quem rege a sua empresa por princípios tem um «projecto claro», que acaba por criar sinergias com os colaboradores e com todos aqueles que contactam com a organização. Contudo, admitiu que os empresários que subscreverem o Código se tornam mais vulneráveis, na medida em que a sua actuação vai estar a ser seguida atentamente. «Um dono de um supermercado não pode correr o risco de que lhe digam: “o senhor é ético, mas a fruta que vende não é boa”», exemplificou. Na sua opinião, esta iniciativa poderá contribuir para a modificação da imagem que os portugueses têm dos empresários. «Os empresários têm má imagem, de desempregadores e de alguém que pratica fuga fiscal. Isso não corresponde à realidade; essa não é uma imagem justa», afirmou. Por decidir está a entidade que vai ser responsável pela atribuição desta notação ética, que à semelhança das normas de qualidade fará a distinção entre as diferentes condutas empresariais. Na ausência de uma confederação empresarial de topo a nível nacional, a escolha poderá vir a recair sobre uma plataforma intermédia. Se Portugal decidir avançar com esta iniciativa, integrará o grupo dos primeiros países europeus a fazer a destrinça entre as empresas com comportamentos éticos e as outras. Este modelo já está a ser implementado nos EUA. Competitividade assenta nas empresas José Roquete defendeu que faz sentido falar de ética no mundo em que predomina a economia global de mercado. Em seu entender, neste cenário, é preciso haver «estruturas de controlo, para que esta enorme dinâmica não contenha em si algo negativo» e para que não voltem a acontecer coisas menos agradáveis, como foi o caso da Parmalat. «Na economia social de mercado tem de haver regulamentação», afirmou, sublinhado que esse é «um papel inalienável do Estado». Em contrapartida, é preciso afirmar a «capacidade empresarial privada». «O Estado tem um conjunto de competências, mas a competitividade assenta nas empresas», defendeu. Este dirigente considera fundamental «reconhecer que os empresários e gestores são indispensáveis para o país porque são promotores de riqueza. Sem eles não vai haver desenvolvimento económico e social». José Roquete argumentou que ouve muitas vezes falar na distribuição de riqueza e poucas na sua criação, correndo-se, assim, o risco de embarcar num processo sem sustentação a longo prazo. Não obstante, essa produção de riqueza tem de ser alicerçada em valores universais. «Tudo tem valor se o homem for o fim último e a grande motivação dos projectos de vida», referiu. Valores universais O empresário disse que «os valores éticos são universais» e não «propriedade de uma confissão religiosa». «O projecto de Código não se aplica apenas àqueles para quem os valores cristãos são uma parte importante da sua vida», afirmou. Nesse sentido rejeitou a deslocalização de empresa por causa do custo da mão-de-obra. O orador considerou ser inaceitável «criar uma falsa competitividade com base na violação dos direitos do homem». Por outro lado, defendeu que nos casos em que é necessário fazer reestruturar as empresas, despedindo funcionários, «há valores de justiça social que devem ser salvaguardados». Não obstante, quando estiver em causa a sobrevivência da empresa, os gestores «têm de assumir a responsabilidade última da decisão». Referindo-se aos direitos e deveres dos empresários e dos trabalhadores, admitiu que esta é uma área «turbulenta». No entanto, sublinhou que as centrais sindicais foram convidadas para discutir o projecto do Código e se espera que elas avancem com algo do género. O debate sobre o Código vai decorrer em todo o país, mobilizando as associações empresariais e sindicais. Paralelamente, haverá debates específicos sobre ética e fiscalidade (já hoje), ética e empresa, ética e comunicação social e ética e cristianismo. A primeira apresentação foi feita em Lisboa e ontem teve lugar em Braga, numa organização da delegação do Minho da Associação Cristã de Empresários e Gestores.


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