Encontros com São Paulo em Guimarães Miguel Miranda 03 de Novembro de 2008, às 10:26 ... A avaliar pela multidão que respondeu positivamente à chamada para a primeira sessão dos Encontros com São Paulo – na casa dos dois milhares e setecentas de pessoas, quer em Braga, quer em Balazar, quer em Guimarães, -, esta iniciativa da Arquidiocese de Braga para a vivência do Ano Paulino promete casa cheia nos próximos encontros, à razão de um por mês, até Julho. Esta Sexta-feira, numa Igreja de Nossa Senhora da Conceição (Guimarães) a abarrotar de gente, o bispo auxiliar de Braga, D. António Couto, aqueceu uma noite fria com as suas palavras sobre a graça de Cristo no corpus paulino. Tratando-se do primeiro encontro, nada melhor do que começar pelo princÃpio. E o princÃpio, neste caso, é a saudação que abre e fecha cada epÃstola do Apóstolo, constituindo a moldura de toda a carta. E aà o prazer de (re)descobrir a omnipresença da palavra e do sentido da "graça" (cháris) de Cristo cativou sem dúvida uma assembleia convidada pelo orador a ler, na tela onde iam sendo projectados os textos, a apresentação e conclusão de cada missiva de São Paulo. "Graças por vós" ou "graça a vós", numa relação aprendida de Deus, relação maternal, que depois transparece para o modo como o Apóstolo dirige as comunidades que vai fundando. Mas a sessão até começou – depois de cantado em coro o hino para o Ano Paulino composto pelo maestro Azevedo Oliveira, e enquanto se iam ajeitando pelas escadas os mais atrasados – por uma espécie de preâmbulo, com D. António Couto a lembrar o impacto de São Paulo na conversão de Santo Agostinho e a sublinhar cada palavra-chave de Flp 3, 12-14. Nesta proposta de grelha de leitura se tornou manifesta a aventura que foi a vida de São Paulo: ele perseguia a Verdade para a agarrar, mas, na verdade, foi, sim, agarrado por Ela; a partir desse momento, concentra-se no essencial, deitando ao lixo tudo o que o possa desviar desse caminho, tudo o que está a mais, para se atirar para a frente. "Uma coisa faço", escreveu. Só uma interessa, como diz Jesus nos evangelhos de Marcos (Mc 10,21) e Lucas (Lc 10,42), respectivamente ao jovem rico e a Marta. "Paulo é homem de uma coisa e orienta por ela a sua vida, sem hesitação; uma seta, um atleta, uma meta", afirmou D. António Couto. Sintomática da sua condição é a forma como nas cartas se apresenta – apóstolo, servo, prisioneiro. De quem? De Cristo Jesus. Sempre. Nunca em nome próprio. "Paulo não é um homem moderno, não estima a autonomia. É cristónomo, depende de Cristo", afirmou o bispo auxiliar de Braga, deixando à assembleia dois outros cartões de visita que São Paulo nos oferece nos seus escritos: "teodidacta" e theodóchos, ou recebedor de Deus, como um vaso que recebe água, terra, flores. Curioso foi o apontamento deixado acerca da assinatura das epÃstolas. É que, em 8 das 13 cartas, Paulo não está sozinho mas com os irmãos, nomeados ou anónimos, contrariando o que no seu tempo era hábito. Das 645 cartas desses anos que Ernest Randolph Richards investigou, apenas 6 assumem co-autoria no cabeçalho. A este propósito, e para deixar no ar a pertinência e actualidade desta opção, D. António Couto lembrou as cartas pastorais de D. Alois Kothgasser, actual bispo de Salzburgo, que, ainda quando bispo de Innsbruck, dirigiu duas cartas, à s crianças e jovens da diocese a que presidia, fazendo questão de contar com a colaboração de algumas dessas crianças e jovens na redacção. Já quanto aos destinatários do corpus paulino, eles são a Igreja (62 vezes em Paulo, 52 no restante Novo Testamento), os "chamados" ou "os santos", o que vem a ser uma e a mesma coisa, como realçou. "Precisamos na Igreja de mais afecto e mais acções personalizadas", disse o bispo, propondo comunidades baseadas numa "relação quadrilateral", envolvendo os cooperadores da pastoral na vontade de que "Deus nunca deixe de estar presente nos nossos encontros". Miguel Miranda Ano Paulino Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...