A Universidade Católica Editora lança esta Terça-feira, em Lisboa, a obra «Escritos de Ocasião», do Pe. Roque Cabral, onde aborda diversos temas relacionados com a vida da Igreja e da sociedade.
Com razão se costuma dizer que um problema bem posto é problema meio resolvido. E o contrário também é verdade. Ora, definir bem um termo tem grande analogia com pôr bem um problema: a correcta definição dos termos que usamos é condição indispensável para a adequada abordagem e debate de qualquer tema.
A ponto de Jaime Balmes ter podido dizer, com alguma dose de optimismo: “si definimos no discutiremos”. Bem o sabiam os escolásticos, que por esse motivo faziam preceder qualquer disputa pela fase ad terminos, na qual todos os termos que iriam utilizar eram cuidadosamente definidos.
A história da Ética dá-nos a conhecer alguns casos confirmativos, verdadeiramente “exemplares”, tanto da importância das definições exactas como das consequências negativas e dificuldades levantadas pelas formulações incorrectas. Dois desses exemplos serão aqui lembrados: os dos problemas com que os moralistas se tiveram de confrontar em consequência das deficientes definições de mentira e mutilação.
A definição de mentira que vigorou durante séculos no mundo ocidental foi a que propôs S. Agostinho, primeiro e quase único autor da Antiguidade a estudar desenvolvidamente o tema. Este apaixonado pela verdade preocupou-se seriamente com a mentira, e não apenas por ela ser o oposto da verdade: também porque a sua própria concepção de mentira e, consequentemente, a definição que dela propôs, não se lhe apresentava isenta de dificuldades.