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Estudo denuncia assimetrias entre interior e litoral

CNIS
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São várias as assimetrias sociais que acentuam o fosso entre ricos e pobres e o litoral e o interior do país, os dados constam do estudo que reporta ao ano de 2003 e que agora foi publicado em livro. Isabel Monteiro, na qualidade de presidente da Seiva - Associação ao Serviço da Vida, foi a responsável pela realização do estudo; Adelino Duarte Gomes, Professor da Universidade de Coimbra, foi o coordenador científico; o Padre José Maia, ex-presidente da UIPSS, incentivou e propiciou as condições para execução de todo o projecto. A CNIS editou o livro. O trabalho inclui um levantamento exaustivo das respostas sociais locais, índices de desenvolvimento e a avaliação da população residente às mesmas em 900 freguesias de Portugal Continental. O estudo é encarado como um mapa social do país que serve para identificar a evolução das problemáticas sociais e equacionar as respostas dadas ao nível territorial mais básico - o da freguesia. Permite ainda perceber que em muitos casos existe uma desadequação entre a oferta e a procura no “mercado social†e que existem novos problemas que estão a descoberto da solidariedade e da iniciativa quer do Estado quer da sociedade civil. O estudo aponta para cada região do país estratégias de intervenção muito próprias consoante a realidade, as problemáticas e as respostas existentes. “Tivemos a preocupação de apontar estratégias, meios de intervenção, possíveis soluções de acordo trabalho. A necessidade de trabalhar em rede, que começa logo pela análise das situações, deve ser olhada sobre várias perspectivas, as estratégias devem ser definidas consoante os meios e a missão de cada um dos parceiros e as soluções serem equacionadas por todos e exigirem um compromisso conjunto que passa sobretudo por dar às pessoas que servimos a autonomia para criarem e desenvolverem o seu projecto de vidaâ€, acrescenta Isabel Monteiro. O estudo abrange 900 freguesias portuguesas e aponta para a necessidade de uma “reforma urgente do sistema de segurança social†que responda às carências do interior do país. Foram efectuadas 23 mil entrevistas telefónicas válidas, num trabalho que envolveu a participação de uma equipa multidisciplinar, constituída por investigadores da Faculdade de Psicologia da Universidade de Coimbra e da Escola Superior de Educação de Coimbra. Foram também realizados inquéritos à população e aos líderes locais, entendidos como os presidentes das Juntas de Freguesia e os presidentes das instituições de solidariedade. Uma das principais conclusões é a de que “as respostas sociais nas áreas metropolitanas são muito mais significativas†do que no interior, onde se assiste a um “grande envelhecimento da população e dificuldades no acesso à saúdeâ€. Além destas matérias, são transversais questões como o alcoolismo, a violência familiar ou o analfabetismo, mas Isabel Monteiro destaca o “problema da solidão†que afecta cada vez mais idosos e jovens, devido ao “individualismo†da sociedade actual, para o qual contribuiu o “enfraquecimento das redes de vizinhançaâ€. Isabel Monteiro entende que as instituições particulares de solidariedade social devem ser um instrumento fundamental para diminuir essas assimetrias. No estudo é aconselhada a revisão do sistema de valências, que “deve ser pensado em termos de uma acção social integrada, virada para a comunidade onde as valências tipificadas se enquadram, mas só como e enquanto meio, entre outros, para promover o desenvolvimento e a cidadaniaâ€, diz a investigadora e acrescenta que “acções, intervenções isoladas não têm sentidoâ€. “Há que trabalhar a família, a comunidade no seu todo, dado que as valências não são um fim, são um meioâ€, afirma. O presidente da CNIS, Lino Maia, considerou existirem demasiadas “comunidades desestruturadasâ€, em que as instituições de solidariedade têm um papel “integradorâ€. “As instituições podem ter um papel muito importante no desenvolvimento económicoâ€, defendeu, referindo que em muitos concelhos o sector solidário é o “principal empregadorâ€, nomeadamente no interior do país. O presidente da Confederação encara também o estudo como um “óptimo instrumento de trabalho, uma vez que qualquer resposta social ou política implementada deve partir da realidadeâ€. O dirigente diz ainda que numa altura em que estão a ser delineadas as estratégias de intervenção no âmbito do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN), há “um conjunto de candidaturas e processos a ser implementados que pressupõem uma boa ferramenta de trabalho e esse estudo é isso mesmoâ€. Uma ideia partilhada por Adelino Duarte Gomes, coordenador científico do estudo e professor da Universidade de Coimbra que diz que o mesmo “constitui uma base de apoio para conceber e gerir projectos de desenvolvimento social, a levar à prática para satisfazer necessidades localmente sentidas e aproveitar recursos e oportunidadesâ€. O trabalho está organizado por regiões e identifica, ao nível da freguesia, os problemas, os constrangimentos, as oportunidades e as necessidades, situando-os no território e no seu contexto social, cultural e económico. O professor diz que a leitura do texto proporciona “um conhecimento localmente situadoâ€, algo que considera ser “imprescindível para quem pretende intervir para a mudar ou transformar de forma solidária a realidade localâ€. O antigo presidente da já extinta União das Instituições Particulares de Solidariedade Social (UIPSS), José Maia, afirma que a iniciativa de desenvolvidamente do trabalho surgiu “num contexto mais amplo de uma nova estratégia de intervenção social que ia ser implementada por parte do Estado, chamada a Rede Social, estratégia que, por sua vez, vinha de encontro a um processo que há muito se adivinhava no sentido da territorialização das políticas sociaisâ€.


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