Denuncia de Frei Sales Diniz, director da ONPC no Encontro Nacional da Pastoral dos Ciganos, em Fátima
Os acontecimentos da Quinta da Fonte (Loures) foram “transformados pelos Media numa questão racial, mas nunca foi uma questão racial” – disse à Agência ECCLESIA Frei Francisco Sales Diniz, director da Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos (ONPC). A decorrer em Fátima, 21 a 23 deste mês, o 35.º Encontro Nacional da Pastoral dos Ciganos debate projectos da Igreja Católica na área, preconceitos sociais sobre esta etnia e situações de precariedade.
A partir da análise do trabalho realizado, sente-se a necessidade de “reestruturar a organização da ONPC e sensibilizar os secretariados diocesanos desta área da pastoral” – referiu o director da Obra.
Como forma de mobilizar e sensibilizar as dioceses para a pastoral dos ciganos, “pensamos realizar o encontro nacional nas diversas dioceses”.
Voltando aos acontecimentos violentos na Quinta da Fonte, Frei Francisco Sales Diniz realça que depois de todo o policiamento ao bairro, de um “momento para outro a polícia desapareceu sem estarem as situações resolvidas”. Em Setembro foi assinado um protocolo para “assegurar a segurança do bairro, mas parece que não existem verbas para avançar com o projecto” – lamenta o director da OCPM.
Como não foram dados os passos necessários, “as pessoas continuam a viver na insegurança e existem actos de vandalismo”. Se o problema explodir poderá “ter consequências mais graves do que as anteriores”. O “vulcão está activo”, no entanto os órgãos oficiais – a Câmara, Governo Civil e as instituições responsáveis – “julgam que o problema foi saneado” e retiraram a polícia deste bairro. E avança: “há um clima de medo”.
Este encontro nacional é promovido pela ONPC, cujo director, Frei Francisco Sales Diniz, reafirmou a intenção de denunciar “tudo o que seja discriminação, marginalização, exclusão, racismo ou xenofobia face ao povo cigano”. No número 50 do trimestral “A caravana”, órgão da ONPC, Frei Diniz defende que “o maior grau de criminalidade, particularmente da criminalidade violenta, não tem a sua origem na etnia cigana”.
A ONPC assumiu uma posição pública relativamente aos acontecimentos violentos na Quinta da Fonte, em Julho deste ano. Em comunicado enviado à Agência ECCLESIA, referia-se que “existem no bairro problemas de criminalidade profundos e não controlados, existem sobretudo problemas profundos de clivagens sociais não sanadas”.
Esta obra da Igreja Católica tem a experiência de, há vários anos, visitar pessoas de etnia cigana na Quinta da Fonte, contando ainda com informações que lhe são dadas pelo Secretariado Diocesano da Pastoral dos Ciganos de Lisboa - que tem na Quinta da Fonte um ATL e um Projecto PROGRIDE em que participam pessoas de todas as famílias étnicas do bairro.
A ONPC tem estruturas activas em dez dioceses do país, onde colaboram sacerdotes e leigos no sentido de apoiar aquelas comunidades em questões concretas. Com 36 anos, esta obra da Igreja Católica tem como objectivo “contribuir para o desenvolvimento espiritual e humano, cultural e social da população de etnia cigana em Portugal, através da sua integração livre e consciente na sociedade”.
Em pleno Ano da Interculturalidade é fundamental “a vivência pacífica” entre as várias culturas. E exemplifica: “a pedagogia passa pela prevenção”. A etnia cigana é “marginalizada fora e dentro da Igreja”. E conclui: “Há alguma dificuldade em aceitar os ciganos por causa da sua diferença e forma de ser e de estar”.