Nacional

Evangelizar no meio das certezas e incertezas do mundo

Lígia Silveira
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Cardeal Patriarca de Lisboa abre o Congresso Missionário Nacional com um convite à missão

Num mundo que resiste à mensagem de Deus, “evangelizar não é fácil, mas vale a penaâ€. Esta foi a primeira mensagem dirigida aos congressistas que a partir de hoje se reúnem em Fátima para o Congresso Missionário Nacional. A primeira mensagem foi trazida pelo Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo que reflectiu sobre “A Missão e as incertezas do mundo contemporâneoâ€. D. José Policarpo começou por indicar que a actividade missionária é plena de incertezas no contexto contemporâneo. “Mas o problema principal não vem das incertezas, mas das certezas humanas, quando não estão enraizadas em Deusâ€, tocando as dimensões cultural, ideológica, religiosa, e “competem de igual para igual com as certezas da féâ€. “A evangelização é a primeira concretização do dinamismo de encarnação†e a “Igreja é o fruto mais excelente da encarnaçãoâ€. O sujeito da Igreja “não é só cada missionário ou missionária, cada pessoa. Em toda a concretização da missão, é a Igreja que abraça o mundoâ€, sublinha o Cardeal Patriarca, acrescentando que a dimensão eclesial da missão deve “transformar-se em urgência pastoral em todas as realidades da Igrejaâ€. Certezas e incertezas Na missão evangelizadora, a Igreja confronta-se com uma sociedade com diversas sabedorias, complexidades em relação ao fenómeno religioso, hedonismo e alteração de valores. “Todas estas componentes assentam em certezas vulneráveis, precárias, pouco profundas, que se transformam facilmente em incertezasâ€, sublinha D. José Policarpo. Também a globalização cultural, enquanto dinamismo imparável, sustenta “sabedorias que se entrecruzamâ€, onde o aspecto mais preocupante é o de “as menos profundas serem as que mais influenciam as outrasâ€. No Ocidente foram nascendo sistemas filosóficos que valorizaram a autonomia do homem em relação a Deus e à religião. Nesta concepção, “a vida humana é considerada como dependendo, apenas, do homem e da sua capacidadeâ€, indica o Cardeal Patriarca. No entanto, esta “sabedoria é incapaz de dar respostas válidas nos momentos cruciais da existênciaâ€, nos casos de sofrimento, morte, solidão ou inquietação interior. D. José Policarpo indica que “quem não se interroga e não deseja ir mais longe†passa indiferente à mensagem†e o evangelizador “tem de estar atento às buscas e inquietações do coração humanoâ€. As sociedades inspiradas nesta sabedoria profana, aceitam a Igreja apenas pelos serviços que presta à sociedade, “inserindo-a no esforço de melhoria da sociedade no horizonte deste mundoâ€. Religiões As sociedades democráticas abrem-se ao respeito pelo fenómeno religioso, expresso nos quadros legais da liberdade de consciência, mas “corre-se o risco de considerar todas as religiões de igual valor, sem capacidade de discernimento do contributo específico de cada uma para a plena realização humanaâ€. D. José Policarpo afirma que “quando o cristianismo é apenas mais uma religião, a missão evangelizadora perde a sua urgênciaâ€. A relação entre religião e cultura é, actualmente, inegável. “Muitos países encontraram a sua identidade cultural na valorização da sua religião tradicional, impedindo ou pondo dificuldades à expansão do cristianismo. É o caso de muitos países islâmicos, da Ãndia, com a valorização do Hinduísmo, onde a entrada de missionários estrangeiros é praticamente impossívelâ€. Fácil felicidade O Cardeal Patriarca afirma que “os cristãos têm de descobrir, viver e anunciar a especificidade do cristianismo, o que não impede de reconhecer valores comunsâ€, dentro dos quadros culturais. Inseridos em sociedade, os cristãos confrontam-se com “o modelo de vida e de felicidade que as sabedorias profanas veiculamâ€, onde o hedonismo, o consumismo, excluem o sentido do sofrimento e relativizam a perenidade da felicidade a construir na fidelidade, dentro dos seus modelos de vida. “Não é fácil anunciar o Evangelho a pessoas que têm esta concepção fácil da felicidadeâ€, afirma D. José Policarpo. A mensagem cristã é considerada “desadaptada para o homemâ€, quando este se “considera capaz de resolver todas as interrogações da sua existência e de construir a sua própria felicidadeâ€. Mas o homem “é um ser espiritual e para além dos objectivos imediatos para alcançar a felicidade no presente, não consegue calar as grandes inquietações do seu coraçãoâ€. “O cristianismo não consegue anunciar a esperança a quem está satisfeito com o que é e com o que temâ€, aponta o Cardeal e “Jesus Cristo é resposta para os corações inquietos, incapazes de serem felizes só com a felicidade que já construíramâ€. A fragilidade do desejo e a falta de profundidade do modelo de felicidade que se procura, está na causa das grandes desilusões, no nosso tempo, como “as desilusões no amor ou as desilusões com a sociedade que construímosâ€. Porque, indica D. José Policarpo, “o mito da sociedade perfeita neste mundo, tenha ela o modelo da sociedade sem classes ou da sociedade democrática, onde todos têm igual direito à felicidade é sempre causa de desilusõesâ€. As injustiças, a violência, o desrespeito pela dignidade humana, o fosso cada vez mais profundo entre ricos e pobres, geram muitas desilusões nos sistemas económicos, nos mecanismos políticos, no sistema judicial. O Cardeal Patriarca indica que o modelo de sociedade ideal está em construção, “e é tarefa generosa de todosâ€, mobilizados por valores superiores. “Quem semeia a justiça e a paz talvez não chegue a colher os frutos neste mundo, o que não significa que fiquem sem recompensaâ€. Em pleno Ano Paulino, o Cardeal Patriarca aponta São Paulo como “o grande Apóstolo dos Gentiosâ€, pessoa onde se encontram “os grandes traços da missão evangelizadoraâ€. “Em Cristo, Paulo pode enfrentar diante do mundo as eternas questões do homem, a morte e a vida, a relação da vida presente com a vida eterna, o encontro do mistério do princípio e do fim, a exigência da moralidade de vidaâ€. Notícias relacionadas Conferência de D. José Policarpo no Congresso Missionário Nacional Foto: OMP


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