Nacional

Exclusão e pobreza em diálogo na pastoral universitária

Voz Portucalense
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No Ciclo de Diálogos sobre…, organizados pela Pastoral Universitária do Porto, este ano inspirados na pergunta “E quem é o meu Próximo?” (Lc. 10,29), realizou-se no passado dia 10 de Novembro, na Fundação Eng.º António de Almeida, uma conferência sobre Exclusão e Pobreza. Moderado pela Professora Leonor Vasconcelos, da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, teve como conferencistas o Padre Agostinho Jardim, Presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza e Pároco de freguesias da zona ribeirinha da cidade do Porto (S. Nicolau, Vitória) e o Sociólogo José Virgílio Borges Pereira, Professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, que se tem dedicado à investigação e à orientação de trabalhos académicos sobre estas temáticas. Borges Pereira iniciou a sua intervenção relativizando a gravidade do fenómeno da pobreza e da exclusão social em Portugal. De facto, apesar da ideia generalizada que Portugal é uma nação pobre e com graves carências sociais, o nosso país encontra-se na 27ª posição, em 177 países, no ranking do IDA (Índice de Desenvolvimento Humano) da ONU que mede, sumariamente, “as realizações médias de um país em termos de esperança média de vida, nível educacional, e rendimento real ajustado” - no fundo trata-se de um indicador do bem-estar humano. Contudo, apesar de à primeira vista a posição portuguesa parecer honrosa, encontrando-se nos considerados países “de alto bem-estar humano”, outros números apresentados por Borges Pereira fazem-nos reflectir sobre o que muito há ainda a fazer em Portugal nestas matérias que deviam, claramente, ser prioritárias para o Estado – curiosamente, ou talvez não o P. Jardim aproveitou para relatar, no seu jeito irónico e contundente, a extrema dificuldade que sentiu em conseguir que a Assembleia da República formasse uma comissão de reflexão sobre o fenómeno da pobreza e da exclusão: Quando o Abade da Ribeira tem de ir ao Parlamento tomar posição pelos pobres… que mal vai a política e os políticos... comentou, em jeito de provocação. A realidade para além do lugar que Portugal ocupa no IDA é preocupante. Segundo o Diário de Notícias de 15 de Setembro, entre os 15 países que compunham a UE antes do alargamento, o nosso país é aquele que maior nível de pobreza apresenta. Mais, desde 2003, altura em que ocupávamos o 23º lugar, temos vindo a ser ultrapassados, tendo trocado recentemente de posição com a Eslovénia, país que só em 2005 aderiu à UE. Os números são claros, conforme referiu Borges Pereira: cerca de 200 mil portugueses passam fome; 2 milhões (um quinto da população) vivem no limiar da pobreza, tendo um rendimento disponível 60% abaixo da média nacional. Em contrapartida 10% detêm 30% da riqueza. Frios os números, como fria a nossa indignação. Nas palavras do Sociólogo Borges Pereira – a sociedade portuguesa é fechada e pouco actuante, é necessário uma sociologia da denúncia, habituamo-nos à pobreza, a pactuar com ela, a justificá-la, o que se tornou já numa inscrição social. O ciclo diálogos prosseguiu na quinta-feira, 17 com o tema dor e sofrimento (de que oportunamente daremos notícia) e terá as duas últimas sessões no auditório da Reitoria da Universidade do Porto na quinta-feira, 24 e terça-feira, 29 (às 21h30), com o tema Diferença e inculturação e Crença – não crença. Os primeiros dialogantes serão respectivamente: Rui Marques (Alto Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas) e Fernando Ká (da Associação Aguinenso); para a última sessão, os Professores Paulo Tunhas (da Universidade Fernando Pessoa) e Manuel Sumares (da Universidade Católica). A. Bacelar


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