Conclusões das Jornadas e Assembleia Geral da Cáritas dos Açores
No dia 19 de Novembro, realizou-se, no Lar de Santa Maria Goretti, na cidade de Angra do Heroísmo, a Assembleia Geral da Cáritas Diocesana dos Açores e, no mesmo local, nos dias 20 e 21, as Jornadas Diocesanas subordinadas ao tema “ Exclusão Social – Novo Rosto da Pobreza”.
Os representantes das Cáritas de 5 das 9 ilhas, reunidos em Assembleia, sob a presidência do Sr. Dom António Braga, decidiram:
1. Reforçar a sua atenção às situações mais graves de pobreza e exclusão social existentes no Arquipélago dos Açores, particularmente a todas as que estão a emergir com novos contornos sócio-económicos e às quais ainda não chegam os apoios de acção e segurança sociais, legalmente, estabelecidos;
2.Contribuir para o reforço da partilha de bens, como imperativo da pertença a uma comunidade cristã e como dever de cidadania, proporcionando a criação de dinâmicas de solidariedade activa e efectiva;
3.Denunciar todas as formas de injustiça social existentes, ou que venham a existir na sociedade açoreana, e prestar todo o apoio a iniciativas que visem a superação das desigualdades e de tudo o que ponha em causa o respeito pela dignidade humana;
4.Continuar a reunir condições para, de acordo com a vontade expressa do prelado diocesano, exercer, cabalmente, a missão de animar e coordenar a pastoral social, prestando particular atenção à necessidade de em cada paróquia existir, pelo menos, um grupo de acção social como expressão da caridade organizada;
5.Favorecer a realização de debates que visem a participação empenhada dos católicos na ampla reflexão sobre o exercício da cidadania na perspectiva cristã, no âmbito da iniciativa a levar a cabo pelo senhor Ministro da República.
Nas Jornadas Diocesanas estiveram presentes 70 participantes que reflectiram sobre os conceitos de pobreza e exclusão social e sobre os processos que originam estas grandes problemáticas. Foi analisada também a realidade social dos Açores com o contributo de representantes de serviços públicos e de instituições particulares e o testemunho de quem já viveu em situação de pobreza. Em todas estas abordagens foram tidas em conta a responsabilidade dos cristãos e as suas obrigações como cidadãos activos e comprometidos com as realidades terrestres, sob pena de não assumirem, por inteiro, a sua missão na sociedade. A necessidade de rejuvenescer a organização e acção social da Igreja nos Açores, particularmente a nível paroquial e de cada uma das ilhas, foi outra temática em questão nestas jornadas. Os participantes concluíram que:
1.O exercício da plena cidadania implica e traduz-se no acesso a um conjunto de sistemas sociais básicos que devem ser assegurados, não como medidas de solidariedade mas como cumprimento dos mais elementares princípios da equidade social;
2.Continuam a ser preocupantes os índices de pobreza na Região Autónoma dos Açores, expressos, entre outros indicadores, no número elevado de beneficiários do Rendimento Social de Inserção, na grave situação de precariedade económica em que se encontram muitos dos cidadãos em idade activa, resultante da baixa qualificação profissional e do excesso de empregos precários, que atingem, de forma particular, as mulheres;
3.Se deve cuidar, convenientemente, do acolhimento aos imigrantes e reconhecem que a sua presença é um enriquecimento para os Açores, disponibilizando-se para, em cooperação com o Governo da Região e os órgãos intermédios da sociedade, desencadear acções que visem a inclusão dos imigrantes, a fim de que se assumam como cidadãos sujeitos de direitos e deveres;
4.A sociedade não se reduz ao Estado nem as suas preocupações se podem restringir ao funcionamento das leis do Mercado, mas são parte integrante dela os corpos intermédios, como a família e outras instituições não governamentais, tendo a Igreja uma missão incomensurável na afirmação e difusão de valores humanos e cristãos;
5.É imperioso vencer o perigo da indiferença que perpassa pela sociedade portuguesa, e que atinge também os açoreanos, fazendo com que a educação e a cidadania sejam meios eficazes para a construção de comunidades activas e participativas;
6.A luta contra a pobreza e a exclusão é uma tarefa, cada vez mais, complexa e exigente, dificultada pela globalização de sistemas neo – liberais que dão a primazia ao económico em detrimento do humano, pelo que há que evitar sentimentos fatalistas e juízos de valor eivados de preconceitos face à pobreza e ao comportamento dos pobres;
7.É imprescindível incrementar dinâmicas de partilha perseverante de conhecimentos de interesse comum, aproveitando meios expeditos, concretamente o recurso a novas tecnologias de informação e comunicação;
8.Não é realista nem eficaz a definição de estratégias de luta contra a pobreza e a exclusão social que não envolvam toda a sociedade açoreana numa rede concertada entre a sociedade civil, a Universidade, a Igreja, o Governo Regional e o Empresariado.
Por fim, os participantes reconheceram como uma benção a circunstância da realização destas Jornadas coincidir com a festa litúrgica de Cristo Rei do Universo, facto que se revela como incentivo a intensificar os esforços pela implementação, no mundo, do Reino de Deus que é justiça, verdade, paz, reconciliação e amor. É ao serviço deste Reino que todos se comprometem a estar, servindo os mais pobres.
Angra do Heroísmo, 21 de Novembro de 2004