Fátima: O que mudou até chegar ao Papa «peregrino que caminha com os crentes»?
Historiador António Matos Ferreira destaca ligação do santuário à «reformulação da universalidade» da Igreja Católica
Fátima, 23 jun 2017 (Ecclesia) – O historiador António Matos Ferreira abordou hoje a relação entre ‘Fátima e Roma’, entre o santuário mariano e os Papas, numa conferência inserida no congresso ‘Pensar Fátima’, que decorre até este sábado no Centro Pastoral Paulo VI.
Se em Portugal, “a autoridade eclesiástica” desde cedo realizou um caminho de “convergência” com Fátima, à medida que esta se foi tornando “um polo importante para os crentes católicos”, em relação a Roma a questão está na “maneira como foi sendo valorizada e potenciada a mensagem de Fátima”, disse aquele responsável em entrevista à Agência ECCLESIA.
“Sempre houve uma grande reticência à questão do segredo, o que colocava muito as aparições de Fátima num campo de natureza milenarista, messiânico”, mas isto foi sendo ultrapassado graças à noção de que este local de culto teria muito a dizer quanto à “reformulação da universalidade” da Igreja Católica, apontou o historiador.
Essa consciência da importância crescente de Fátima é visível pela forma como “os últimos Papas assumem a vinda a Fátima como peregrinos”.
“Isto é, os Papas como pessoas que deixam de ser vistas como meramente uma autoridade que está em Roma, que legitima e diz o que é verdade e o que não é verdade, mas que vêm de encontro de uma das devoções mais profundas que o catolicismo transporta, que é a devoção a Maria”, que “querem fazer caminho com os crentes”, salienta António Matos Ferreira.
O congresso internacional ‘Pensar Fátima’, que desde o dia 21 de junho está a reunir dezenas de investigadores das mais diversas áreas, tem como objetivo buscar novas formas de compreender o fenómeno Fátima e o seu contributo civilizacional.
António Matos Ferreira considera que este lugar da Cova da Iria, onde em 1917 Nossa Senhora apareceu a três crianças – Francisco, Jacinta e Lúcia – assume-se hoje como “um lugar de liberdade espiritual”, que a Igreja reconhece como portador da “revelação” de Deus, “através de Maria”.
E isso tem sido também visível através da relação de vários Papas com a Cova da Iria, e não apenas dos mais óbvios, como João Paulo II e mais recentemente o Papa Francisco.
“Por exemplo, Pio XII pronunciou-se, e até em radiomensagens dirigia-se aos fiéis que estavam em Fátima; João XXIII visitou Fátima enquanto cardeal e como legado pontifício, depois como Papa nunca deixou, daquilo que era escrito na época, de se referir ao apreço que tinha pela Igreja portuguesa e pelo elemento importante que era Fátima”, recorda António Matos Ferreira.
Sobre a recente visita do Papa Francisco, o professor da Faculdade de Teologia, da Universidade Católica Portuguesa, considera que ela veio trouxe aspetos “muito interessantes, do ponto de vista da compreensão das aparições e da vivência de Fátima”.
Em primeiro lugar, o Papa argentino quis frisar que “Deus não abandona as suas criaturas, pelo contrário, faz caminho com elas, é isso que significa ser peregrino”, e depois “que a mensagem de Fátima é uma exigência enraizada no Evangelho que pressupõe que as pessoas se convertam”.
“Francisco insistiu muito nisto, o problema não são as soluções extraordinárias, miraculosas, mas sim como a nossa consciência se apropria de uma mensagem mais do que enquanto discurso, de uma atitude de vida”, concluiu.
JCP
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