Na abertura da XVII edição das Jornadas Teotonianas, organizadas pelo arciprestado de Monção, o antropólogo Álvaro Campelo trouxe um roteiro das principais teorias de leitura do fenómeno “festa”, das mais clássicas, com a sua visão homogeneizante, até às mais recentes, de apelo mais forte à individualização das vivências.
Das análises mais clássicas sobressai uma visão negativa da religião e olham para a festa como fenómeno de que «supera as distâncias entre os indivíduos», onde o colectivo entra num estado de efervescência e se dão as transgressões à norma estabelecida no quotidiano.
Numa visão muito marxista, explicou o orador, diz-se que no «divertimento colectivo o indivíduo desaparece» tornando-se as festas «imprescindíveis» para o «reforço dos laços sociais». A festa, que conta sempre com traços celebrativos, é um elemento, ainda nesta visão mais clássica, essencial para «ultrapassar a dureza e banalidade da vida quotidiana» tornando- se, portanto, elemento «regenerador da sociedade ».
Segundo Campelo, uma visão contrastante é aquela que mostra a festa como «espaço da consciência social » de cada homem, defendendo os teóricos que ela mostra a «tensão social» que existe.
Na demonstração desta visão, aquele professor universitário, falou dos «rivais violentos», aqueles que com o mesmo estatuto levam essa disputa social ao terreno da festa, uma situação bem conhecida no quadro das romarias do Alto Minho.
Uma outra visão apresenta a festa «ruptura » apontando-lhe um «poder destruidor», cujo exemplo mais flagrante, na opinião de Campelo, é a actual vivência do Natal na qual se esquece a essência do mistério celebrado para exaltar as prendas e o consumo. Nesta análise Campelo disse que o individualismo e o utilitarismo são as principais causas da decadência da festa que deixou de fornecer aquele sentimento de pertença.
A festa, explicou, tem o condão de pegar no quotidiano e transformá-lo, de «trazer o que se afastou e de lembrar o ausente». Hoje, ganhou uma forte prevalência o «lúdico» em detrimento da celebração, embora ainda continue a aparecer como «momento regenerador do grupo».
Apesar de todas as crises ou leituras que se possam fazer e têm feito ao longo dos tempo, sobretudo ao longo do último século, «a festa e a romaria conservam um papel incontornável » nas comunidades do Alto Minho, concluiu Álvaro Campelo.
O Bispo de Viana do Castelo mostrou-se, no encerramento desta sessão de abertura, preocupado com a «paganização» em que estão a cair algumas festas cristãs, recordando que toda a festa tem de ter uma função de «memória, de celebração e de profecia».
As Jornadas Teotonianas prosseguem, hoje, no Centro Paroquial da vila de Monção, com o padre jesuíta Dário Pedroso a abordar a “Eucaristia, Centro da Vida Cristã”.
Paulo Gomes/«Diário do Minho»