Nacional

Funchal comemorou Dia da Igreja Diocesana

D. Teodoro de Faria
...

Diocese cria Comissão Justiça e Paz

Com a Catedral quase terminada, um clero zeloso, um povo crente e missionário que, já fornecera um bispo para o norte de Ãfrica, o Papa de Roma acedeu aos pedidos dos que lhe propunham a criação de uma nova diocese que teria a função materna e espiritual de presidir, na fé e na caridade, aos novos territórios e povos, onde já tinham chegado as caravelas dos portugueses ou haveriam de chegar, implantando a fé de Cristo. Foi no dia 12 de Junho de 1514, portanto há 491 anos, que o Papa Leão X assinou a Bula «Pro excellenti excelentia», criando a Diocese do Funchal. Foi uma novidade e um prenúncio de crescimento da cristandade para as terras fora do continente europeu e africano. Uma nova primavera espiritual surgia para além das colunas de Hércules e o ponto de apoio era uma pequena ilha que nalguns mapas era apresentada como pertencendo às ilhas afortunadas ou da macarronésia, nome derivado do grego «makarios» que significa feliz ou bem-aventurada. Decorria quase um século após as naves dos marinheiros portugueses terem ancorado nas costas da ilha. As populações portuguesas, vindas principalmente do norte, trouxeram consigo os santos da sua devoção, as tradições religiosas e culturais e começaram a semear as costas íngremes de «poios», transformando a terra virgem num jardim de Deus onde crescia a videira e o trigo, para que não faltasse o vinho nem o pão para a boca e para a celebração da eucaristia. Quando chegou a cana-de-açúcar os mercadores ricos da Europa central e oriental fizeram-se ao largo, vieram montar os seus negócios e abrilhantaram as igrejas e capelas com tábuas flamengas, esculturas e magnífica ourivesaria, pois Deus merecia o que de mais belo e mais puro tinha saído das mãos dos artistas. Com a Catedral quase terminada, um clero zeloso, um povo crente e missionário que já fornecera um bispo para o norte de Ãfrica, o Papa de Roma acedeu aos pedidos dos que lhe propunham a criação de uma nova diocese que teria a função materna e espiritual de presidir, na fé e na caridade, aos novos territórios e povos, onde já tinham chegado as caravelas dos portugueses ou haveriam de chegar, implantando a fé de Cristo. Força espiritual que vem do alto 2 - Faz parte da estrutura de uma diocese ou Igreja particular, o mi-nistério pastoral, o evangelho, a eucaristia e o Espírito Santo. A presidência da construção de uma Igreja particular necessita de um bispo que faz a ligação com as ou-tras igrejas particulares e com o Papa de Roma que preside a todas as Igrejas do universo. No cerimonial da ordenação episcopal, desde os tempos mais antigos, o Bispo recebe o «espírito principal», o mesmo carisma concedido aos santos apóstolos para que ele guie a sua Igreja, esteja à sua frente, com a missão litúrgica de santificar, de a reger como seu pastor e de ser o primeiro responsável pela missão de ensinar e pregar o evangelho. A Igreja diocesana não está dissociada da comunhão com as ou-tras Igrejas. O bispo representa todas as outras Igrejas junto da sua e representa a sua diocese junto das outras. Desta forma a Igreja Diocesana é uma manifestação plena da Igreja de Deus, mas não de uma forma isolada. O Evangelho não é sua propriedade, o bispo recebe e transmite-o; a Eucaristia faz da Igreja um só corpo; os dons do Espírito Santo só se encontram no conjunto das Igrejas; o ministério do bispo exprime visivelmente a comunhão entre as Igrejas. Um lugar específico é reconhecido à Igreja de Roma, porque Jesus Cristo confiou a Pedro a «presidência da caridade». O bispo de Roma tem a solicitude pela Igreja universal. «Confirma os teus irmãos na fé» (Lc. 22, 32) disse Jesus a São Pedro. Estas palavras constituem a maior tarefa do ministério do Papa, ser sinal e servidor da fé da Igreja universal. Quando o Papa criou a diocese do Funchal, todos estes elementos constitutivos de uma Igreja parti-cular, existiam no conjunto do povo crente da Madeira, embora a explicitação teológica só fosse claramente enunciada no Concílio Vaticano II. Uma diocese não é uma organização como as outras, ela é uma força espiritual que vem do alto, diferente portanto das formas sociais e organizativas dos Estados ou dos grupos de pessoas. A Igreja particular não dá ordens aos governos nem ao mundo, mas nos momentos de desorientação ela pode fornecer respostas, auridas e contempladas no Evangelho, na tradição cristã e na Doutrina Social da Igreja. Não é uma imposição, mas um serviço ao bem comum, tendo em conta que ela precisa em muitos momentos de ter a coragem de ser oposição. Comissão Justiça e Paz 3 - A Igreja particular não consiste só no magistério da hierarquia, ela precisa da reflexão, estudo e coragem de anúncio dos seus membros mais fiéis, dotados de amor à verdade e de uma força de resistência para a apresentar na sua integridade. Hoje, é criada na Diocese a Comissão Justiça e Paz. Segundo os Estatutos aprovados em 1982 pela Conferência Episcopal Portuguesa, a Comissão é um organismo laical, «com a finalidade genérica de promover e defender as ideias da Justiça e da Paz à luz do Evangelho e da Doutrina Social da Igreja». Ela dedica-se também aos temas tão actuais e escaldantes da bioética, a analisar informações sobre situações e problemas, relativos ao desenvolvimento dos povos, di-reitos do homem e da mulher, a estimular o compromisso responsável e esclarecido dos cristãos no campo das actividades políticas, sociais e cívicas, e a apresentar o resultado dos seus juízos, segundo o Evangelho e a Doutrina Social da Igreja. «A Comissão actua sob a sua própria responsabilidade, não vinculando a Hierarquia senão quando esta assumir as suas tomadas de posição». Espero que a Comissão Diocesana, segundo a tradição da Comissão Pontifícia e Nacional, será uma voz firme, clara e atenta aos problemas da nossa sociedade, que procurará viver a sua vocação laical e o seu compromisso temporal, segundo a sua fé, e que ofereça propostas e opções para o bem comum segundo o espírito do Evangelho, a doutrina social da Igreja e os direitos fundamentais do homem. Funchal, 12 de Junho de 2005 D. Teodoro de Faria, Bispo do Funchal


Diocese do Funchal