Nacional

Glória de Portugal

Octávio Carmo
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Núncio Apostólico e Bispos portugueses homenageiam Irmã Lúcia

A figura e a vida da Irmã Lúcia, falecida em Coimbra na tarde do 13 de Fevereiro, são recordadas pela Igreja portuguesa como um "exemplo de fé", elogiado pela sua discrição apesar do protagonismo da mensagem de Fátima. O representante do Papa no nosso país, D. Alfio Rapisarda, afirma que “a Irmã Lúcia é a glória de Portugal”. “É uma figura que pertence à Igreja universal. Ela é a imagem do que cada cristão deve ser. Durante os 97 anos ela demonstrou como temos de acolher, viver e praticar o que o Senhor quer de nós. Com a sua vida humilde e escondida e com a sua simplicidade que eu admirei sempre, ela dá-nos esta mensagem: ser coerente a tudo o que o Senhor nos pede”, refere. O Núncio Apostólico confirma que João Paulo II foi informado imediatamente quando a saúde da Irmã estava mais frágil e manifestou-se “muito satisfeito por termos chegado a tempo de lhe entregar a linda mensagem que o Santo Padre lhe enviou”. Centenas de pessoas de Portugal e do mundo têm passado pelo Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, e pelo Santuário de Fátima, para lhe prestar uma última homenagem. D. Serafim Ferreira e Silva, Bispo de Leiria-Fátima, recordou aos peregrinos que “a mensagem de Lúcia é a fidelidade, a coragem”. Nesse sentido, lembra o que a Irmã Lúcia disse por alturas dos primeiros interrogatórios, levados a cabo pelo pároco de Fátima, em 1917: “eu não sou santa, mas também não sou mentirosa; eu só digo o que vi”. D. João Alves, bispo emérito de Coimbra, contactou algumas vezes com a Irmã Lúcia e refere à Agência ECCLESIA que dela guarda “uma imagem muito agradável e positiva”. “A Irmã Lúcia inspirava confiança pela paz em que vivia. Uma paz assente na fé e numa constante união a Deus. Era uma pessoa muito serene e interessada pelos problemas da vida, principalmente pelos problemas dos pobres. Estando num mosteiro de contemplativas, verifiquei que se mantinha a par das grandes preocupações do mundo e da Igreja. Por algum acesso à comunicação social e pela informação que lhe chegava através das visitas que, às vezes, recebia”, relata. O actual bispo de Coimbra, D. Albino Cleto, destaca “a fidelidade àquilo que ela se propôs na sequência do que Nossa Senhora lhe pediu”. “Pessoa humilde, recolhia-se sempre que podia, atendia sempre com caridade as pessoas que lhe pediam entrevista, mas fugia quanto podia desses contactos públicos e protocolares. Era verdadeira carmelita”, aponta, reconhecendo também ele “o seu enorme interesse pela vida da Igreja”. D. José Policarpo, Cardeal-Patriarca de Lisboa, frisou que “a morte da irmã Lúcia encerra um ciclo, de certo modo”. “A Irmã Lúcia viva tornava Fátima contemporânea. Com a morte da última vidente e praticamente da última testemunha das aparições, Fátima fica definitivamente no seu ritmo normal de uma tradição espiritual, a partir de uma mensagem”, apontou. O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa indica que “a Irmã Lúcia deu um testemunho bonito de simplicidade de fé, de coerência da sua vida religiosa. Deixou um património que penso que é de explorar: a longa actividade epistolar, em milhares que se conhecem, onde ela exprime a espiritualidade de Fátima”. Sobre os efeitos desta morte para o futuro, D. José Policarpo adverte que “a Lúcia tinha pouquíssima ou nenhuma interferência no Santuário e na mensagem de Fátima, até porque na Irmã Lúcia há dois períodos muito distintos: aquele em que ela é vidente, em 1917 e nas visões de Tuy, onde ela é uma personagem escolhida por Nossa Senhora. “Fátima há muito tempo que vive da mensagem original, independentemente da Irmã Lúcia estar viva ou não”, declara. D. António Marcelino, Bispo de Aveiro, considera que “falar de tristeza, de pena ou de dor não tem sentido numa pessoa, numa vida tão longa, na sua própria fidelidade, na sua generosidade”. “É uma figura que marca a história de Portugal”, assinala. O Bispo de Lamego, D. Jacinto Botelho, considera que “é a riqueza da igreja que se manifesta com a sua morte por este testemunho de simplicidade que ela deu ao longo de toda a sua vida e de fidelidade ao Senhor”. D. Armindo Lopes Coelho, bispo do Porto, frisou em comunicado que a vida da irmã Lúcia "tem que ver com os acontecimentos de Fátima, as aparições, a mensagem, o culto e devoção, a fé de multidões, a beatificação da Jacinta e do Francisco, as peregrinações e a vida e transformação interior de muita gente". Os Bispos portugueses interrompem o seu retiro de Quaresma para participar no funeral da Vidente de Fátima, a ter lugar na Sé Nova de Coimbra. O corpo regressará depois para o Carmelo, onde repousará em campa rasa. O corpo da Irmã Lúcia será transferido dentro de um ano para o Santuário de Fátima, como confirmou D. Serafim Ferreira e Silva. Este processo respeita aquilo que a Irmã Lúcia estabeleceu, por escrito.


Pastorinhos de Fátima