Portugal está disposto a vencer o desafio da plurireligiosidade e ser um exemplo para a Europa no que diz respeito ao diálogo entre Religiões. O Secretário de Estado Adjunto do Ministro de Estado e da Presidência, Feliciano Barreiras Duarte, disse hoje que o Governo tudo fará para promover “uma verdadeira cultura da tolerância”.
Barreiras Duarte falava durante a apresentação das duas primeiras obras realizadas pela Unidade de Missão para o Diálogo com as Religiões: o calendário inter-religioso “Celebração do Tempo” para 2005 e o guião de visita a lugares de culto de Lisboa, intitulado “Olhar o Património Religioso, Entender a Cultura”. A cerimónia decorreu esta manhã, no Palácio Foz, em Lisboa.
Segundo o Secretário de Estado, o Conselho de Ministros deverá formalizar em breve a Unidade de Missão, que pretende ser uma “entidade de estrutura leve, para o diálogo com as confissões religiosas, baseado na amizade e no respeito”.
A importância de se considerar o “outro” na sua diversidade como merecedor de respeito e não como uma ameaça marcou, aliás, todo o encontro, onde estiveram presentes líderes da Igreja Católica, da Igreja Ortodoxa Grega, da Comunidade Judaica, da Comunidade Islâmica, da União Budista e da Comunidade Hindu.
O Pe. Miguel Ponces de Carvalho, responsável da Unidade de Missão, destacou “a importância da dimensão religiosa na nossa sociedade”, no que foi secundado pelo Pe. Peter Stilwell, que considerou a plurireligiosidade como “um dos maiores desafios para a Europa dos nossos dias”.
O director da Faculdade de Teologia da UCP lamentou que “a presença pública da Religião seja vista como uma ameaça para a cidadania”, criticando quem quer formar cidadãos “analfabetos religiosamente”. O Pe. Stilwell, responsável pelo Departamento das relações ecuménicas e do diálogo inter-religioso do Patriarcado de Lisboa, chamou a atenção para o valor das Religiões enquanto receptáculos de um “património de valores e mundividências”.
Todos os intervenientes mostraram a sua preocupação pelos recentes acontecimentos na Holanda, relativos ao assassinato de Theo van Gogh e os subsequentes ataques a igrejas e mesquitas no país. O Secretário de Estado falou em “crise de modelos de integração” e prometeu para Portugal “uma análise cuidada destas novas e apaixonantes questões”.
Por seu lado, o Pe. Peter Stilwell realçou o caminho já percorrido em Lisboa com iniciativas como o “Oceanos de Paz”, em Setembro de 2000, assegurando que “as lideranças religiosas estão apostadas em criar laços de amizade e conhecerem-se”.
Entender a diferença
O Guião de visitas a lugares de culto de Lisboa mereceu várias palavras de consideração por parte dos intervenientes, sendo considerado por Barreiras Duarte como “o primeiro olhar acessível ao grande público sobre as convicções do outro”.
O Pe. Miguel Ponces considerou-o “uma obra inovadora”, enquanto o Pe. Peter Stilwell sublinhou que “o património religioso e cultural pede uma leitura, uma interpretação”.
“Trata-se de edifícios, que chama a nossa atenção e marcam o espaço público, pelo que é necessária uma pedagogia de aproximação para perceber que eles não são um quisto de uma comunidade no interior da sociedade, que é diferente”, apontou.
Em mais de 125 páginas são apresentados edifícios das confissões cristãs, do Judaísmo, do Hinduísmo e do Islamismo, bem como os princípios dessas religiões, percursos e chaves de leitura.
“Olhar o património Religioso, entender a Cultura” é da autoria de José António Cunha e D. Tomaz Silva Nunes, Bispo Auxiliar de Lisboa.
Em declarações à Agência ECCLESIA, D. Tomaz Silva Nunes, sublinhou a importância de um correcto entendimento dos lugares de culto, “para perceber a sua organização, a intenção subjacente e o simbolismo dos seus elementos”.
O prelado lembrou a história da obra, que começou por ser um trabalho do Secretariado Diocesano do Ensino Religioso do Patriarcado de Lisboa, dirigido “aos professores e alunos de EMRC a partir do 5º ano para fornecer instrumentos pedagógicos”. Mais de 2 mil alunos percorreram os locais propostos.
“O Guião quer ajudar a olhar de outra maneira os lugares de culto e tem um valor simbólico: todos nós, independentemente da nossa Religião, somos chamados à convivência e somos capazes de reconhecer a riqueza uns dos outros”, concluiu.