Nacional

"Guiné-Bissau hoje...situação política, social e militar"

AAVV
...

Colóquio promovido pela Associação dos Estudantes Guineenses do Porto

Os últimos acontecimentos, agitados, na Guiné-Bissau, motivaram a Associação dos Estudantes Guineenses do Porto a organizar o colóquio “Guiné-Bissau hoje…situação política, social e militar”. Com o apoio do Secretariado Diocesano da Pastoral Universitária, a iniciativa decorreu no passado Sábado, 20 de Novembro, na Casa Diocesana de Vilar, com a presença e valiosos contributos do Dr. João Galina Barbosa (Professor de Economia no Instituto Profissional de Braga e mestrando em Estudos Europeus na Universidade do Minho) e do Dr. Leopoldo Amado (Historiador do INEP e doutorando na Faculdade de Letras de Lisboa). Após as apresentações realizadas pelo Presidente da Associação dos Estudantes da Guiné, Hans Dabó, o Dr. Leopoldo Amado traçou a evolução histórica do território da Guiné, iniciando no século II a.C., até aos nossos dias. Com esta “viagem”, pretendia mostrar que um dos graves problemas actuais de um país como a Guiné, é o facto de esta não ser uma realidade única e unificada, mas uma miscelânea de etnias (embora o termo possa ser discutido) e povos que se foram fixando no território e que ainda hoje co-habitam, nem sempre da maneira mais pacífica. Esta situação não advém apenas de diferenças naturais, como foi mesmo alimentada na época da colonização sob a ideia de que seria útil “dividir para reinar”. Na sua História, a Guiné-Bissau teve um grande momento de unidade nacional aquando da Luta de Libertação, congregado na figura de Amílcar Cabral, chegando a ser um exemplo para as outras colónias. No entanto, após a Independência, as divergências e contradições voltaram a surgir e ainda não foi possível encontrar um caminho que levasse à paz desejada e, por ela, até ao desenvolvimento. Dos desafios que se levantaram à Guiné-Bissau independente, o Dr. Amado salienta os dois que considera mais relevantes e que, apesar de terem falhado, devem continuar a ser a aposta no futuro – a recuperação económica e a democratização social. Estes dois objectivos, difíceis num contexto em que não há tradição comercial nem de respeito pela lei fixada, continuam a ser prementes na actualidade sob pena de o país ficar completamente à margem da situação mundial e de o Estado guineense continuar refém dos interesses dos grupos militares que vão assumindo o poder. Tentando encontrar uma solução, foi apontada a possibilidade de uma intervenção da ONU, no território, de forma a lançar as bases necessárias a um país democrático, não só para encontrar a estabilidade necessária ao progresso, mas também a atrair os “cérebros” guineenses que estão noutros países devido à situação interna e que poderão ser os futuros construtores de uma opinião crítica e interveniente no país. Após esta brilhante exposição, iniciou-se um diálogo muito participado onde o público não se limitou a comentar as palavras do Dr. Amado, como também acrescentou outras faces dos problemas que assolam a Guiné e que, na opinião de cada um, também ajudaram a agravar a situação presente – a primeira fase de governação de Luís Cabral, o golpe de 14 de Novembro de 1980 e os 18 anos de liderança de Nino Vieira, o golpe de 1998 e o período de Assumane Mané, a falta de formação de uma classe dirigente, etc. Para terminar ficaram algumas ideias principais – o problema da Guiné actual tem raízes profundas num passado de diferenças étnicas e que só se podem resolver por uma educação para a cidadania, que tem de passar pela reconciliação e pela construção de uma identidade nacional em que todos sintam a necessidade de trabalhar e caminhar num mesmo sentido, através da mediação do sistema democrático que, e como foi dito em jeito de conclusão, “é como a matemática… para se aprender é necessário exercitá-la.”


África