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Idanha mostra as «Formas da Fé»

Luís Filipe Santos
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800 anos de património artístico nas terras de Idanha

“Descobri um património riquíssimo que era desconhecido da historiografia de arte” – disse à Agência ECCLESIA Joaquim Caetano, Comissário da Exposição “Formas da Fé” - patente ao público no Centro Cultural Raiano, em Idanha-a-Nova – integrada nas comemorações dos 800 anos da doação da carta de foral a Idanha-a-Nova por D. Sancho I a D. Fernando Dias, Mestre da Ordem dos Templários, datada de 23 de Janeiro de 1206 que eleva Idanha-a-Nova a vila. O encerramento das comemorações aproxima-se – 23 de Janeiro – mas o programa foi extenso. “Conhecia mal o património artístico de Idanha e o primeiro passo foi fazer um inventário prévio do concelho” – relatou Joaquim Caetano. Grande parte desse património “estava em perigo” porque “não tinha sido convenientemente preservado e também detectámos que uma empresa espanhola estava a fazer intervenções de conservação sem grande qualidade” – acrescentou o Comissário. Para mostrar aos interessados a importância daquele património fez-se a exposição «Formas da fé». Idanha é uma região com tradições de fé “muito vivas, nomeadamente na Páscoa, – movimentam a população praticamente toda – e a festa da Senhora do Almortão”. Um Calvário do Século XIII A exposição mostra cerca de quatro dezenas de peças de todo o concelho. “A mais antiga é um Calvário completo (3 peças), do século XIII, de Proença-a-Velha. Um calvário gótico – talvez seja de origem francesa - de importância internacional” – disse Joaquim Caetano. Esta peça raríssima só por si “merece a visita à exposição”. E continua: “deve ter sido uma doação templária ligada à fundação de Proença”. Os visitantes – “têm sido muitos” – podem também visualizar uma imagem da Virgem do Leite, de Penha Garcia, esculpida em calcário de Ançã e datada de 1469. Uma obra do mestre João Afonso - de Coimbra -, o escultor mais importante daquela cidade nos meados do século XV. Em termos artísticos, ele faz “a ligação entre o grupo de escultores da Batalha (fundamental da nossa escultura dos finais do século XIV e inícios do século XV) e as grandes oficinas coimbrãs (do século XVI)” – avançou Joaquim Caetano. Para concretizar esta mostra “tivemos de fazer uma selecção” porque “o orçamento não chegada para intervir nas peças todas”. “Só foram feitos restauros de algumas obras de um pintor manuelino, provavelmente era daquelas terras, que era desconhecido da historiografia portuguesa”. Depois da descoberta “colocámo-lhe o nome de mestre do Rosmaninhal”. Este pintor tem um tríptico na Igreja do Rosmaninhal, três pinturas no Museu de Castelo Branco e uma pintura na Igreja Matriz de Proença-a-Velha. “Um grupo de sete peças que nos permite definir a personalidade artística” – apurou o comissário da exposição. O roteiro artístico começa no século XIII e termina no século XIX. “Temos também duas peças do século XIX: Uma adoração do Sagrado Coração de Jesus (escultura tardo-barroca) e com um manto rico da Senhora do Almortão” Da procissão para a exposição «As Formas da Fé» tem uma particularidade visto que muitas “destas imagens continuam a servir nas procissões. Não são peças que estejam musealizadas (fora da sua função)”. E relata um episódio curioso: “no dia da inauguração da exposição uma imagem teve de sair – foi à procissão – e depois voltou”. As peças são muito mais relevantes – do ponto de vista cultural e da sua compreensão – se estiverem nos sítios para onde foram criadas. “Aí serão memória de um património artístico” – confessou Joaquim Caetano. Como a exposição tem tido “grande sucesso deverá ser prolongada”. E aponta datas: “até 16 de Abril (Páscoa) ou na festa da Senhora do Almortão (3ª semana depois da Páscoa)”.


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