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Igreja apresenta retrato da sua acção social

Lígia Silveira
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Estudo realizado pela UCP fala de centenas de milhares de respostas a situações de carência

As instituições sociais da Igreja Catolica dão resposta a mais de meio milhão de situações de carência e empregam mais de 23 mil pessoas, um número que poderá ser maior, uma vez que o voluntariado, não quantificado, é uma dimensão com alargada presença na acção social da Igreja.

Estes são alguns dos resultados apresentados esta manhã ao episcopado português nas Jornadas pastorais que decorrem em Fátima, onde os bispos estão a reflectir sobre a acção social da Igreja. O resultado provém de um estudo realizado pela Universidade católica Portuguesa que pretendia inquirir todas as instituições, na área social, da Igreja e retratar as respostas dadas.

As valências com maior percentagem de resposta destinam-se a idosos e crianças, havendo ainda soluções a outras situações, nomeadamente toxicodependência, doentes de sida, deficientes. Mas, apesar das experiências positivas, existe uma menor capacidade de resposta nestas áreas.

O apoio domiciliário abrange 25 700 situações. Só no ano de 2007, foram apoiadas 513 mil situações. No entanto a este número, se deve atender o facto de apenas metade dos Centros Sociais Paroquiais terem respondido (cerca de 50% dos existentes) e o retrato do apoio domiciliário ter sido feito quando a crise económica e financeira não estava ainda a provocar uma crescente procura nas respostas sociais.

D.  Carlos Azevedo, Presidente da Comissão Episcopal de Pastoral Social explica à Agência ECCLESIA que o inquérito mostra "um retracto social", próximo da realidade.

"Não é census de todas as instituições", uma vez que as respostas obtidas representam cerca de 70% das conferências Vicentinas e cerca de 50% dos Centros Sociais Paroquiais. De qualquer forma, "a quantidade de respostas e os resultados permitem uma leitura muito próxima da realidade".

Segundo D. Carlos Azevedo, a União das Misericórdias Portuguesas elaboraram igualmente um inquérito, assim como a Cáritas, e os resultados são semelhantes.

Da análise do inquérito, o Bispo Auxiliar de Lisboa destaca a preponderância da escala paroquial das respostas sociais: "Existe uma racionalidade territorial das políticas mas também a valorização da proximidade, factor fundamental na ajuda e no reconhecimento dos problemas", manifesta. Em especial nas zonas urbanas, esta territorialidade é essencial porque "dá consistência ao conhecimento recíproco e provoca relações".

As respostas aferidas mostram duas acções diferenciadas no terreno. Por um lado, instituições com apoio técnico e profissionalizado em articulação com as políticas com a acção social do Estado e por outro respostas "de ordem espiritual e carismática" que actuam no terreno, conferindo "um profundo impacto nas ajudas prestadas", não só através das visitas a doentes e idosos, como também nas respostas imediatas a situações de carência.

As instituições mantêm-se "muito dependentes e com pouca autonomia das políticas de acção social do Estado", refere D. Carlos Azevedo.

Existindo uma cooperação que "deve ser mantida", o bispo auxiliar aponta a necessidade de as comunidades se envolverem mais na organização. D. Carlos pede "mais pontes entre as organizações sociais e as paróquias, para que os centros sociais paroquiais sejam uma expressão da caridade das comunidades eclesiais".

No entanto, as parcerias entre o Estado e as instituições mostram o exercício da missão fundamental da Igreja, "de subsidiariedade e de responsabilidade social que as comunidades paroquiais sentem". O Bispo aponta que esta é uma tarefa essencial e não marginal à Igreja. A educação, saúde e o apoio à família são áreas onde o apoio do Estado é necessário e a tarefa da Igreja desenvolve-se em parceria com as políticas sociais.

D. Carlos Azevedo aponta também uma rotina no trabalho social e a necessidade de criar respostas inovadoras.

"A crise social e económica motiva um acicate de responsabilidades criativas e inovadoras", expõe, recordando algumas ideias decorrentes do Simpósio «Reinventar a Solidariedade (em tempo de crise)» organizado pela CEP no passado dia 15 de Maio.

As jornadas pastorais do episcopado, que terminam amanhã em Fátima, contam com a presença do secretário da Comissão de Assuntos Sociais da Conferência Episcopal francesa, o Pe. Jacques Turck. D. Carlos Azevedo afirma que esta participação permite conhecer respostas da Igreja noutros locais e estimula a mobilização para a pedagogia social, "uma necessidade actual".

Tendo em conta que as respostas das instituições não são estáveis, mas flexíveis e é exigida criatividade e inovação, será necessário continuar o estudo das mesmas. D. Carlos Azevedo afirma que esta leitura "permite não esmorecer no hábito de avaliar as práticas sociais". Este poderá ser um passo em frente para a criação de um Observatório Social.

D. Carlos Azevedo afirma ser necessário traçar uma pastoral de conjunto, uma vez que "a complexidade da realidade exige uma resposta nacional e até internacional", mas também ao nível das dioceses que "se devem organizar para fornecer respostas concretas".

Na conferência de imprensa no final das Jornadas Pastorais, agendadas para a tarde desta Quinta-feira, dia 18, serão dadas a conhecer conclusões e pistas para o trabalho futuro, quer da a CEP como da Comissão Episcopal da Pastoral Social, condensando consequências do Simpósio, da realidade social e preparando a semana social agendada para Novembro. Estarão presentes D. Jorge Ortiga, Presidente da CEP, o Vice-presidente, D. António Marto, o Pe. Manuel Morujão, secretário da CEP e ainda D. Carlos Azevedo, Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social.

A ausência de respostas

O Presidente da Comissão Episcopal de Pastoral Social aponta um "esforço de algumas dioceses" para contrariar a tendência de não se responder a inquéritos, "uma peste portuguesa".

"Não foi o que gostaríamos que fosse, pois algumas diocese não se mobilizaram, mas o retracto é próximo da realidade", sublinha.

Henrique Joaquim, investigador principal no inquérito realizado pela Universidade Católica Portuguesa, dá conta da resistência para obter as respostas ao inquérito. "As pessoas estão cansadas de responder a inquéritos e não verem resultados, o que neste caso não vai acontecer. De qualquer forma não valorizam os resultados que daí podem advir, reagindo apenas à burocracia".

No entanto, o investigador principal do inquérito da UCP coordenado por Alfredo Teixeira e Mário Lage, afirma que a taxa de resposta foi "fortíssima, mais de 1600 respostas válidas, o que é uma amostra muito significativa".

Para o investigador ficou claro que a Igreja tem duas grandes vertentes de actuação social. Uma presença muito forte na acção social "mais formalizada, ao nível da política social, com os equipamentos e serviços contratualizados com o Estado", mas também à escala menos formal, através do trabalho realizado pelas conferências vicentinas, grupos Cáritas e demais grupos sociocaritativos.

A continuação do trabalho, com vista à criação de um Observatório Social, está dependente dos Bispos, mas o resultado apresentado é "uma rampa de lançamento que pode dar à CEP e às estruturas da Igreja dados mais actualizados".

A equipa está disponível para dar continuidade ao trabalho.



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