O jesuíta francês Jean-Yves Calvez, um dos mais respeitados especialistas do pensamento social católico, considera que a Igreja Católica deve assumir uma posição mais forte em relação ao drama do desemprego.
Em declarações à Agência ECCLESIA, o Pe. Calvez afirmou que o problema não está na falta de tomadas de posições, mas na ausência de “proposições que permitam abrir caminho para o futuro”.
“É evidente, perante a concepção católica do trabalho, que a realidade do desemprego deixa a Igreja infeliz, mas gostaríamos de que fizesse mais propostas às autoridades”, referiu um dos oradores principais das jornadas "Cooperar e competir - A sociedade em busca do trabalho e do emprego" organizadas pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (FAIS).
Jean-Yves Calvez sugere mesmo que o Papa retome estas questões para “sugerir pistas de solução”, lamentando que não se tenha feito “grande coisa” nos últimos 10/15 anos.
Para o director da revista "Études", uma das mais prestigiadas publicações católicas francesas, é necessário que a sociedade implemente um sistema geral que permita aos trabalhadores “viver do seu trabalho”, efectivamente, integrando novas actividades na vida económica.
“A actividade industrial está a desaparecer, porque a automatização vai continuar, pelo que não será possível deixar de pensar em novos modos de trabalho. Uma vez que muitas das necessidades são satisfeitas por uma produção mecânica, menos dispendiosa, há a possibilidade de satisfazer outras necessidades”, refere.
Neste sentido, ganha destaque o papel dos serviços, das relações entre pessoas, sobretudo nas áreas da saúde, educação e cultura. “Penso que o futuro poderá reservar-nos um surto de empresas pouco capitalistas, mais corporativas”, define.
Em relação aos problemas trazidos pelos surtos migratórios ao mundo do trabalho, o Pe. Jean-Yves Calvez lembra que a Europa “ainda precisa de mão-de-obra”, sobretudo para o trabalho que os europeus “não querem fazer”.
“O fenómeno migratório tem mudado muito e começamos novamente a discutir o tema das quotas, o que considero muito significativo: mesmo as autoridades sabem que há necessidade dos imigrantes”, frisou.