Igreja do Porto e Questão Social Voz Portucalense 30 de Junho de 2005, às 12:33 ... A situação social e laboral na área geográfica da Diocese do Porto tem-se degradado nos últimos tempos. Diversos Ãndices comprovam isso. O aumento do desemprego é o principal factor. Dele decorre o aumento da pobreza e a degradação da qualidade da vida social: a desagregação da famÃlia, a explosão da violência e da criminalidade, a insegurança, a falta de saúde fÃsica e psÃquica, a toxicodependência, a fuga para o consumismo. Qual o significado deste estado de coisas? Há muitas leituras possÃveis. O sociólogo, o polÃtico, o economista apresentarão uma leitura dos factos e apontarão as suas perspectivas de solução através de oportunas medidas. Num nÃvel mais profundo, a Doutrina Social da Igreja tem também a sua leitura e aponta também o seu diagnóstico a algumas perspectivas de solução. O regresso a um texto como a "Centesimus Annus", de João Paulo II (1991) é sempre útil quando queremos situar-nos nesta discussão de actualidade que é a situação de Portugal e os desafios que encontra pela frente para superar a crise social em que se encontra mergulhado. É interessante ver como esse texto recua diante da análise dos problemas sociais, fazendo remontar a raiz das questões à sua dimensão antropológica e cultural. O comunismo caiu por um fundamental erro antropológico (n. 13): "o homem é reduzido a uma série de relações sociais, e desaparece o conceito de pessoa como sujeito autónomo de decisão moral, que constrói, através dessa decisão, o ordenamento social". Podemos perguntar se não é sempre na base de um equÃvoco semelhante que todos os regimes falham. Podemos mesmo ir mais longe e perguntar se a crise de Portugal e da Europa de hoje não tem que ver com o deliberado esquecimento do ser humano, na sua autonomia e dignidade, com o esquecimento das virtualidades da sociedade civil, em favor de uma concepção de estado que tudo sabe e tudo decide, da educação à saúde, da justiça ao trabalho. Mais massificação, mais burocracia, mais dirigismo estatal não são caminhos para superar a crise. Por isso, o contributo da Igreja para a questão social é de ordem da antropologia e da cultura, antes de ser da opção concreta de economia ou de polÃtica. Mas este contributo, mesmo que não imediato, é decisivo. "O primeiro e maior trabalho realiza-se no coração do homem, e o modo ele como se empenha em construir o seu futuro depende da concepção que tem de si mesmo e do seu destino. É a este nÃvel que se coloca o contributo especÃfico e decisivo da Igreja a favor da verdadeira cultura" (CA, 51). A crise do paÃs e a crise da Europa têm a sua origem numa crise de sentido: a dignidade, a liberdade, a fraternidade são factores essenciais da saúde da cultura. Neste terreno se justifica e torna pertinente o contributo da Igreja e das correntes de espiritualidade para a resolução da questão social. Jorge Teixeira da Cunha Diocese do Porto Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...