As igrejas de Águas e a do Sagrado Coração de Jesus, obras com o selo do arquitecto Nuno Teotónio Pereira, vão ser alvo de classificação por parte do IPPAR
O Instituto Português do Património Arquitectónico vai classificar a igreja Igreja de Águas, em Penamacor, e a igreja a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa, dando assim um contributo fundamental para que estas obras do presente possam ficar na história.
As igrejas têm a assinatura do arquitecto Nuno Teotónio Pereira (na igreja do Sagrado Coração de Jesus em parceira com Nuno Portas) e estão já abrangidos pelo estatuto de bens protegidos, estatuto que vai manter-se até que termine o processo de classificação, da responsabilidade do IPPAR.
A renovação da arquitectura religiosa em Portugal, mais visível a partir da década de 50 do século passado, vê assim reconhecido o valor de duas das suas obras fundadoras. Cinema, garagem, praça de touro, construção protestante ou comunista são alguns dos “mimos” com que têm sido presenteadas ao longo das últimas décadas as novas igrejas de Portugal.
A igreja paroquial de Águas, na Diocese da Guarda (1950-57) é um marco da modernização da arquitectura religiosa, “capaz de dar dimensão humana e sentido de sobrenatural, cujo ponto de partida foi a aproximação ao contexto, às formas vernáculas”.
Aquilo que se pretendia de um edifício religioso, por esta altura, é que respondesse às necessidades do culto, organizando o espaço em torno do altar. Este espaço era comunitário e traduzia, de modo plástico, a Assembleia dos fiéis, reunida para celebrar.
A igreja do Sagrado Coração de Jesus, (Arq. Nuno Teotónio Pereira e Nuno Portas, Lisboa, 1961-70) constituiu-se posteriormente como uma referência para as gerações futuras, marcando definitivamente uma nova imagem no equipamento religioso, aberto e participado. Esta igreja era definida como “o lugar onde a Igreja se reúne para celebrar: escutar a Palavra, celebrar a Eucaristia, reconhecer a Assembleia que celebra o mistério pascal de Cristo como Povo de Deus”.
Nuno Teotónio Pereira, nascido em Lisboa (1922), foi presidente do Movimento de Renovação da Arte Religiosa (M.R.A.R.), nascido quando no Outono de 1952, um pequeno grupo de arquitectos recém-diplomados e alguns estudantes da Escola de Belas Artes de Lisboa fizeram as primeiras reuniões, reagindo contra a utilização de modelos tradicionalistas e ao estilo neomedievalista que vingava nas novas áreas urbanas de Lisboa e Porto.
Participaram neste movimento alguns dos mais destacados arquitectos e artistas plásticos em Portugal, como o próprio Nuno Teotónio Pereira, João de Almeida, Diogo Pimentel, Nuno Portas, Luís Cunha, Erich Corsepius, Madalena Cabral, Formosinho Sanchez, Manuel Costa Cabral, Eduardo Nery, Jorge Vieira, entre outros.
A utilização de materiais tradicionalmente considerados como menos nobres (o betão, o vidro) e o primado da funcionalidade nas edificações são apenas a face visível de um fenómeno de renovação que em Portugal deu os primeiros passos com o trabalho de Pardal Monteiro e a sua Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Lisboa, edificada entre 1934 e 1938: primeira a desafiar os códigos tradicionais revivalistas, baseando-se nos projectos franceses do género, (onde se destaca a igreja de Notre Dame du Raincy, do Arq. Auguste Perret, 1922, utilizando o betão armado e simplificando as formas).
Obras como esta e a sua homónima, no Porto (1935, a cargo do grupo A.R.S. – Cunha Leão, Fortunato Cabral e Morais Soares) e os seus opostos revivalistas e regionalmente estilizados de São João de Deus, Santo Condestável e São João de Brito, em Lisboa, lançam uma viva discussão e originam as tomadas de posição muito antagónicas, entre o conservadorismo e o desejo de renovação.