Voluntariado pode ajudar a medir desenvolvimento de uma comunidade
O voluntariado «é um trabalho meritório, que pode ajudar a medir o grau de desenvolvimento de uma comunidade». A ideia foi apresentada ontem pelo presidente da Associação Famílias, Carlos Aguiar Gomes, no II Fórum Espiritano, que se realizou no Seminário de Fraião, em Braga, subordinado ao tema “Voluntariado e missão”.
Segundo Carlos Aguiar Gomes, uma comunidade que disponibiliza pouco tempo para o voluntariado é uma comunidade «egoísta».
«Eu, como cidadão, tenho o direito e o dever de me empenhar numa causa cívica, cultural, política ou religiosa», disse.
De acordo com o orador, «o cidadão, e aquele que é cristão, não pode ser espectador e não intervir. O cristão é o homem/mulher que assume a sua condição de ser missionário. Não tem que vestir um hábito ou pôr uma bandeira. Tem que estar no mundo e anunciar a Boa Nova».
«Eu sou enviado ao mundo, no lugar onde me encontro. Aí se exerce a minha acção de missionário. Nesse campo, todos estamos mandatados desde o nosso Baptismo», referiu o presidente da Associação Famílias.
«Todos temos uma missão e às vezes esquecemo-nos que podemos ser missionários de retaguarda», referiu, acrescentando que «é preciso rezar».
Numa intervenção em que, como o próprio disse, não quis ensinar algo, «mas partilhar algumas ideias», Carlos Aguiar Gomes defendeu que «a vida de missionário é difícil».
Por isso, salientou: «podemos criar correntes de oração livre, responsáveis e voluntárias, ao serviço da missão, para que os missionários continuem o seu trabalho».
O orador focou a necessidade de «sermos capazes de parar para reflectir. É bom parar e deixar tranquilizar a nossa alma, para ver o que é importante e o que podemos fazer na nossa vida de cristãos, para a missão não ser de alguns elementos, mas para que eles a desempenhem bem, porque sentem que nós estamos no mesmo ideal, com a mesma força, embora em campos diferentes».
«A ideia que tínhamos era que ser missionário era ir para África ou para a América Latina e que a Europa não era terra de missão», referiu.
Carlos Aguiar Gomes disse não saber «se é mais difícil ser missionário aqui ou em África, porque o Ocidente está numa fase de neo-paganismo»
O presidente da Associação Famílias disse que «não pode haver voluntariado que não seja livre e responsável. O voluntariado é a acção exercida de forma livre e voluntária, em favor de um objectivo determinado, para o qual a pessoa se disponibiliza no seu tempo livre».
Subinhou que o tempo livre se situa «fora do trabalho e da família» e chamou a atenção para o voluntariado não poder «penalizar o tempo» que deve ser dedicado à família.
«O voluntário tem que perceber que exerce o voluntariado de forma livre e responsável». Ele «tem que assumir os encargos que decidiu assumir».
Voluntariado exige trabalho prévio
Na opinião do presidente da Associação Famílias, o voluntariado é uma tarefa que «exige formação e muito trabalho prévio».
Segundo o orador, um voluntário «não pode ser idealista. Tem que ver se tem condições para desenvolver a actividade». Ele «tem que perceber claramente quais são as suas funções».
Concretamente aquela pessoa que é voluntária em missão tem que «perceber o que vai fazer, que condições vai encontrar, o que se exige dele» e se tem condições para se adaptar.
Neste contexto, «é necessário que se diga com rigor o que se vai fazer e o tempo que temos disponível», frisou o orador.
A título de exemplo, Carlos Aguiar Gomes referiu que se alguém pretende ser voluntário mas não tem equilíbrio/maturidade emocional para tal, não o deve ser.
No início da actividade de ontem, o Provincial dos Espiritanos em Portugal, padre José Manuel Sabença, explicou que a iniciativa surgiu na sequência do
I Fórum, realizado em Maio, para se continuar a «reflectir sobre assuntos que interessam aos missionários e a quem quiser dar um contributo na sociedade em que vivemos».
No Fórum Espiritano, promovido pela Congregação do Espírito Santo e pela direcção da União dos Antigos Alunos dos Seminários do Espírito Santo, foi mostrado um trabalho em computador com informações sobre a experiência de voluntariado vivida o ano passado, por cerca de dez jovens portugueses, em Kalandula, Angola.
Entre outras tarefas, o grupo, que reuniu voluntários de várias zonas de Portugal, desenvolveu trabalho na área da saúde e a nível social, recebeu conhecimentos sobre direitos humanos e de carácter bíblico e deu um curso de formação a professores.