As edições dos principais títulos da imprensa internacional chegaram ontem às bancas com primeiras páginas que recordam o peso histórico de João Paulo II e a dualidade entre a sua abertura política e o seu conservadorismo moral.
A imprensa italiana optou por um tom afectuoso para cobrir a morte do Pontífice de nacionalidade polaca, que há muito a cidade de Roma tinha adoptado como cidadão italiano.
“Ciao Papa Karol” e “Adieu Wojtyla” foram as manchetes escolhidas pelos jornais La Sicilia e La Repubblica, respectivamente.
Com mais conteúdo, mas mantendo o mesmo tom, o diário Corriere della Sera salientou que João Paulo II foi “o Papa que mudou o mundo”.
O diário do Vaticano publicou uma fotografia de João Paulo II abraçando um crucifixo, aparentemente captada no momento em que assistia na sua capela privada à celebração da Via-Sacra da Sexta-feira Santa, cerimónia em que a doença o impediu de participar.
“Deixaste-nos Santo Padre. Consumiste-vos por nós. Nesta hora gloriosa, sentimo-nos abandonados”, pode ler-se na legenda da foto.
“Mas toma-nos pela mão e guia-nos com essa mão que se fez palavra: obrigado, Santo Padre”, escreveu ainda L’Osservatore Romano, aludindo ao facto de o Papa não ter podido exprimir-se em público nos seus últimos dias de vida.
Na Polónia, o país de origem de Karol Wojtyla, os jornais, que normalmente não saem para as bancas ao domingo, publicaram edições especiais de forma a solidarizarem-se com o luto nacional decretado ontem pelas autoridades locais.
“Ele regressou para a casa de Deus”, afirmou o jornal de grande tiragem Fakt, que se assumiu igualmente como o porta-voz da dor de milhares de polacos.
No território francês, o diário Le Parisien recordou João Paulo II como um “defensor de combates ultrapassados” e detentor de “uma castidade fora do tempo”.
Ainda no mesmo registo, o Journal du Dimanche relembrou a agonia pública do Pontífice e sublinhou que o Santo Padre quis transmitir ao mundo e ao povo católico que o “sofrimento e a morte também fazem parte da vida”.
Em Espanha, os jornais lembraram João Paulo II como “o Papa que mudou a história do século XX” e como um “Pontífice carismático que pediu perdão pelos erros históricos do Vaticano, como a escravatura, a Inquisição, o Holocausto, as Cruzadas e os enganos científicos”, frisou o trabalho jornalístico do diário de inspiração católica ABC.