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Imprensa regional deve apostar nos conteúdos para fidelizar leitores

Lígia Silveira
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O desafio digital deve ser encarado pela imprensa regional e local. “A Internet é um espaço virtual aberto a todos”, indicou Carlos Camponês, professor de comunicação social e deontologia que apontou a Internet como um “meio plástico, adaptável a múltiplas estratégias”. No entanto, não se pode encarar como uma “mera modernice”. As transformações efectuadas com a digitalização “permitiram a criação de um novo media – o multimédia em linha”. O professor catedrático afirma que no futuro, “a Internet marcará decisivamente a própria existência das mensagens enquanto conteúdo, efectivamente, disponível”. Carlos Camponês aponta o desafio dos conteúdos. Com a gratuidade, a informação tornou-se num produto “não valorizado pelo público. Hoje o que é escasso não é a informação, mas a atenção das audiências”. Por isso, a lógica deve centrar-se na “ligação das pessoas com o produto de forma a participarem no co-financiamento da sua produção”. O professor perspectiva uma renovação de conteúdos. “Um jornalismo cívico, baseado num modelo democrático-participativo”. Esta teoria defende formas de comunicação à pequena escala, participativas, assegurando à população o direito de informar e participar, para além de questionar o modelo profissional do jornalismo distanciado. Carlos Camponês afirmou que a “letargia que caracterizou a imprensa regional do Séc. XX, esgotou-a para fazer face aos desafios actuais” e por isso o desafio impõe-se na óptica dos conteúdos. “As mudanças são não de temer”, finalizou. O professor de comunicação social traçou um retrato da imprensa regional do séc. XX e os desafios que a imprensa enfrenta no séc. XXI. Numa retrospectiva, “havia uma separação significativa entre litoral e interior” de rádios e jornais regionais e locais. “Havia, no contexto da Europa dos 15, um número excessivo de títulos e rádios”. Em termos qualitativos, a imprensa regional caracteriza-se pela reduzida dimensão dos títulos, pela “pequenez” de mercados regionais (leitores e publicidade), pela ausência de cooperação entre os media, registava-se um amadorismo, escassez de recursos, individualismo e personalização de projectos, assim como uma dependência face aos poderes políticos locais – “uma falta de qualidade”. “A Imprensa regional no nosso país, em 2000, salvo raras excepções não estava em condições de enfrentar sozinha as condições do mercado”. Alguns estudos estrangeiros e portugueses apontavam que a imprensa regional é o sector que melhor resiste às crises económicas. Um mercado de crescimento, com um índice de penetração regional assinalável, onde os “jornais nacionais, inclusive os considerados de referência, têm pouca penetração”. Recorda Carlos Camponês que Arons de Cravalho apontava, em 2000, que o porte pago representava 90% da ajuda estatal à empresa e considerava ser um entrave ao profissionalismo e à autonomia”. Feliciano Barreiras Duarte considerava, em 2003, que o sector da imprensa regional estava excessivamente subsidiado e dependente do Estado. “Era considerado amador e o seu modelo esgotado”. Carlos Camponês recorda que em 10 anos houve 10 diplomas para a regulamentação do porte pago. “A sua orientação falava na redução e numa maior exigência de concessão, nomeadamente na tiragem e na profissionalização”. A política do porte pago racionalizou o número de títulos. “Se antes era um incentivo, agora os títulos têm a sua vida mais complicada. Enfrentam o decréscimo de subsídios e enfrentam empresas grandes que esmagam as pequenas iniciativas”. O conferencista indica, comparando o quadro diocesano que “Braga aumentou o número de títulos, mas nas restantes dioceses os títulos têm diminuído”. Carlos Camponês aponta o desafio do mercado, que deve ser enfrentado através das relações de parceria. “A tendência da imprensa em Portugal configura um aumento da concentração, uma orientação para o marketing e publicidade, um aumento da concorrência e estratégias comerciais mais agressivas”.


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