Incêndios: Comissão Nacional Justiça e Paz defende «ação concertada» e imediata
«O Estado falhou, mas será que o Estado não abrange também todos nós?», questiona organismo católico
Lisboa, 25 out 2017 (Ecclesia) – A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) defendeu hoje que chegou a altura de uma “ação concertada” sobre os incêndios, que abranja não só o Estado mas todas as estruturas sociais, e permita definitivamente acabar com esta “calamidade”.
Numa nota intitulada “Recomeçar a partir das Cinzas”, enviada à Agência ECCLESIA, aquele organismo da Igreja Católica salienta que a tragédia mais recente, ocorrida no centro do país, é sinónimo que o trabalho produzido depois de Pedrogão Grande não teve o seu efeito.
“É óbvio que o Estado falhou, mas será que o Estado não abrange também todos nós, mulheres e homens de boa vontade, bem como a sociedade civil e suas organizações numa clara dimensão coletiva?”, questiona a CNJP, que apela a um “pacto nacional” contra os fogos e deixa várias propostas para reverter o cenário atual.
Um contexto feito por inúmeros focos de incêndio que, entre junho e outubro, já causaram mais de 100 mortos e um prejuízo material e ambiental ainda por contabilizar.
Os fogos florestais ainda dezenas de pessoas sem teto e muitas outras sem condições de subsistência, por terem perdido para as chamas as suas empresas, máquinas agrícolas e terrenos de cultivo.
Para a Comissão, é em primeiro lugar “urgente repensar todas as estruturas de suporte a calamidades como esta ou outras, implicando o Estado e os responsáveis políticos a nível central, regional e local, numa estratégia de concertação”.
E isto tem que ser “para já, para hoje”, aponta aquele organismo, recordando os muitos “relatórios” e “comentários” produzidos ao longo dos últimos meses e que não tiveram efeitos práticos.
Sobre o papel do Estado, a CNJP salienta a importância de passar de uma estrutura “centralista e distante dos cidadãos” para um organismo que tenha a capacidade de agir “a nível nacional mas também local”.
“Os mais afastados dos poderes centrais demonstraram uma forma de ser e de viver a tragédia digna de reis ou mesmo de heróis. Uma grandiosa lição para quem estabelece linhas orientadoras e toma decisões que afetam todos e cada um”, pode ler-se.
Outra matéria essencial para a CNJP é a “identificação” de quem possa ter estado envolvido na origem dos incêndios, sejam eles “indivíduos ou grupos organizados”.
“Que eles prestem contas à justiça para que não fiquem impunes, mas evitando no entanto discursos de ódio”, refere os mesmos responsáveis, que deixa depois uma mensagem à sociedade civil, para que seja mais “proactiva e eficaz”.
E que diante da inação política ou da burocracia vazia tenha a capacidade de “denunciar”, sem nunca esquecer “a importância do voluntariado social a todos os níveis e em todos os lugares”.
A CNPJ é um organismo laical da Conferência Episcopal Portuguesa, que tem como finalidade promover e defender a Justiça e a Paz, à luz do Evangelho e da Doutrina Social da Igreja.
Atualmente esta estrutura é presidida pelo juiz Pedro Vaz Patto.
JCP
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